Crise entre Dilma e militares coloca comandantes em saia justa
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Presidente decidiu punir oficiais que aderiram a manifesto que a critica por não ter censurado ministras que pediram a revogação da lei de anistia; após a decisão, adesão mais do que dobrou
02 de março de 2012 | 20h 54
Tânia Monteiro, de O Estado de S.Paulo
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BRASÍLIA - Não será fácil para os comandantes do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica resolverem o imbróglio criado pela presidente Dilma Rousseff por ter
decidido punir com advertência todos os militares que assinaram o manifesto
"alerta à nação - eles que vem, por aqui não passarão", que endossa as críticas
a ela por não ter censurado suas ministras que pediram a revogação da lei de
anistia.
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da reserva diz que recorrerá se for punido por manifesto
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A presidente já havia se irritado com o manifesto dos Clubes Militares,
lançado às vésperas do Carnaval, e depois retirado do site, e ficou mais
irritada ainda com o novo documento, no qual eles reiteram as críticas e ainda
dizem não reconhecer a autoridade do ministro da Defesa, Celso Amorim, para
intervir no Clube Militar.
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Inicialmente, o manifesto tinha 98 assinaturas. Na manhã da quinta-feira,
após terem tomado conhecimento da decisão de puni-los, o número de seguidores
subiu para 235 e no início da tarde de sexta-feira chegou a 386 adesões, entre
eles 42 oficiais-generais, sendo dois deles ex-ministros do Superior Tribunal
Militar. A presença de ex-ministros do STM adiciona um ingrediente político à
lista, não só pelo posto que ocuparam, mas também porque, como ex-integrantes da
Corte Militar, eles têm pleno conhecimento de como seus pares julgam neste
caso.
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O Ministério da Defesa e os comandos militares ainda estão discutindo
internamente com que base legal os militares podem ser punidos. Várias reuniões
foram convocadas pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, e os comandantes
militares nos últimos dias para discutir o assunto. Mas há divergências de como
aplicar as punições. A Defesa entende que houve "ofensa à autoridade da cadeia
de comando", incluindo aí a presidente Dilma e o ministro da Defesa. Amorim tem
endossado esta tese e alimentado a presidente com estas informações. O ministro
entende que os militares não estão emitindo opiniões na nota, mas sim atacando e
criticando seus superiores hierárquicos, em um claro desrespeito ao Estatuto do
Militar.
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Só que, nos comandos, há diferentes pontos de vista sobre a lei 7.524, de 17
de julho de 1986, assinada pelo ex-presidente José Sarney, que diz que os
militares da reserva podem se manifestar politicamente e não estão sujeitos a
reprimendas. No artigo primeiro da lei está escrito que "respeitados os limites
estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente
das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas,
opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito
ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público".
Esta legislação acabou dando origem a Súmula 56 do Supremo Tribunal Federal.
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Esta zona cinzenta entre as legislações, de acordo com informações obtidas junto a militares, poderá levar os comandantes a serem processados por danos morais e abuso de autoridade, quando aplicarem a punição de repreensão, determinada por Dilma. Nos comandos, há a preocupação, ainda, com o fato de que a lista de adeptos do manifesto só cresce, o que faria com que este tema virasse uma bola da neve, já que as adesões são cada vez mais consistentes.
Esta zona cinzenta entre as legislações, de acordo com informações obtidas junto a militares, poderá levar os comandantes a serem processados por danos morais e abuso de autoridade, quando aplicarem a punição de repreensão, determinada por Dilma. Nos comandos, há a preocupação, ainda, com o fato de que a lista de adeptos do manifesto só cresce, o que faria com que este tema virasse uma bola da neve, já que as adesões são cada vez mais consistentes.
Fonte: Estadão-SP
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