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terça-feira, 6 de março de 2012

Não! Os militares não questionaram a autoridade de Amorim — de Dilma Rousseff, então, menos ainda.

06/03/2012 às 19:38
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Amorim ensaia recuo, ainda que à sua maneira; abaixo-assinado já conta com 679 militares — 81 generais

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Pode não parecer por causa da retórica, mas a verdade é que o ministro Celso Amorim (Defesa) ensaia um recuou no caso da punição aos militares da reserva. Leiam o que informa Gabriela Guereiro, na Folha Online . Volto em seguida.
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Em resposta ao manifesto de militares que questionaram a sua autoridade e a da presidente Dilma Rousseff, o ministro Celso Amorim (Defesa) disse nesta terça-feira (6) que o “respeito à autoridade civil” é parte da democracia brasileira, além de estar previsto em lei. “Eu quero valorizar essa presença [dos militares], o governo da presidente Dilma valoriza essa presença, agora também é necessário que haja o respeito à lei.”  Amorim afirmou que a Comissão da Verdade, criticada pelos militares que assinaram o manifesto, foi criada por lei aprovada no Congresso – por isso deve ser cumprida por todos os brasileiros, inclusive os integrantes das Forças Armadas. “Eu vejo muita preocupação com a Comissão da Verdade. A comissão é lei. Todos nós brasileiros, militares e civis, temos que respeitar a lei passada quase pela virtual unanimidade do Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, é preciso ter clareza que essa lei vai ser aplicada na sua integralidade, inclusive no que diz respeito à observância da Lei de Anistia. Então não há porque também toda essa inquietação em torno de questões que não estão colocadas”, disse.
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Amorim não quis falar das punições que o governo estuda aplicar aos militares que assinaram o manifesto. Segundo o ministro, o assunto já foi “objeto de orientação” e agora está na alçada dos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. “Não há nada a acrescentar sobre isso.”  Segundo Amorim, o governo da presidente Dilma tem valorizado as Forças Armadas com a liberação de verbas que asseguram “condições de trabalho” aos militares e à sua vida pessoal. “Estamos atentos às questões que dizem respeito às condições de vida material das Forças Armadas”, afirmou.  Num afago aos militares, Amorim disse que eles “têm dado demonstração do profissionalismo” em questões de apoio à lei e a à ordem e quando há necessidade da sua presença em todo país. “Encontrei o ex-governador do Acre aqui, o estado sofreu com enchentes, e sem a presença das nossas Forças Armadas seria impossível atender essas situações”, disse.
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Comento
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Começo com uma correção. Não! Os militares não questionaram a autoridade de Amorim — de Dilma Rousseff, então, menos ainda. Ele afirmaram que Amorim não tinha autoridade para obrigar os clubes a retirar um texto de protesto. E não tinha mesmo! A lei 7.524 lhes faculta essa possibilidade. Se as palavras fazem sentido, isso é incontroverso.
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Diz Amorim com aquela falsa pompa que tão bem o caracteriza: “O respeito à autoridade civil é parte da democracia”. Claro que sim! Desde que a autoridade civil não desrespeite a lei, como ele próprio pretende fazer ao punir os militares, que se manifestaram… dentro da lei. Amorim assegura que a Comissão da Verdade respeitará a Lei da Anistia. Ainda bem! Mas não é assim porque ele é bonzinho. É assim porque foi o que o Congresso aprovou (como se vê no post anterior)
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A crise só começou porque Maria do Rosário, uma “autoridade civil”, sugeriu que tanto a Lei da Anistia como a Lei da Comissão da Verdade podem e devem ser desrespeitadas. Quem é, afinal, que está investindo no baguncismo?
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Amorim, segundo entendi, vai deixar as “punições” a critério dos comandos militares. Os comandos militares, por sua vez, deveriam deixar esse assunto de lado e se limitar a seguir o texto legal. Ou podem ser alvos de um tempestade de ações judiciais. Sem contar que os códigos de conduta dos militares prevêem ampla possibilidade de defesa, em processos que podem ser longuíssimos.
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Adesões
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Celso Amorim fazia das suas no Itaamaraty, e as coisas quase nunca tinham conseqüência. Agora é diferente. Há cinco dias, quando decidiu punir os militares, havia apenas 98 signatários do documento — 13 generais. Segundo a última atualização, os números são estes:
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81 generais;
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384 coronéis;
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92 tenentes-coronéis:
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22 majores;
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44 capitães;
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56 tenentes.
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São, pois, 679 militares, além de um desembargador do TJ-RJ e de 392 civis.
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Conclusão
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Nessa questão, seguissem todos a ordem legal — a começar da Lei da Anistia, passando pela que criou a Comissão da Verdade e chegando à 7.524, que garante aos militares da reserva o direito de manifestar —, e nada disso estaria acontecendo: não teria havido manifesto, não teria havido abaixo-assinado, e Amorim não teria tentando ir além de suas sandálias.
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Eu tenho uma máxima: sempre que se desrespeita uma lei democraticamente instituída para fazer justiça, o que se consegue é praticar ainda mais injustiça — além de levar intranqüilidade à sociedade.

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Por Reinaldo Azevedo

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