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segunda-feira, 26 de março de 2012

Morreu no ostracismo que lhe impôs a TV Globo... isso é homicídio culposo!


23/03/2012 às 17:42 republicado 26/03/2012 às 20:38

Chico Anysio, talento puro, gênio, morreu mesmo foi de amargura — e não era o caso

 
 Chico Anysio: um gênio que se achava equecido, mas que é inesquecível
(Foto: Oscar Cabral)

Não posso dizer que conheci o Chico Anysio, morto hoje no Rio, aos 80 anos. Até porque minha área de atuação no jornalismo não incluiu incursões importantes na seara das artes e espetáculos.

Mas, na trajetória de jornalistas com longas carreiras, é difícil não topar com celebridades, de uma forma ou de outra. Certa vez, já há alguns bons anos, numa viagem profissional, coube-me sentar-me a seu lado durante um voo São Paulo-Buenos Aires.

E conversamos durante as quase três horas de duração da viagem.

Chico Anysio, sem qualquer surpresa para mim, exalava uma grande, avassaladora frustração.

Ganhava muito bem, tinha uma vida magnífica, havia se casado com várias mulheres espetaculares, que lhe deram uma penca de filhos, que ele adorava. Entretanto, se sentia desvalorizado pela Globo, onde trabalhava há décadas, achava que o novo humor feito pela emissora e por outros profissionais pouco levavam em conta seu enorme legado – e por aí vai. Eu já sabia mais ou menos como ele se sentia por haver lido várias de suas entrevistas.

Agora, que o grande humorista morreu, tudo o que li a seu respeito e o que ouvi dele naquela viagem me fez concluir que Chico, que enfrentou com bravura problemas sérios de saúde e sofreu um calvário de entra-e-sai de hospitais e UTIs nos últimos tempos, morreu mesmo é de amargura.

Ele podia ter suas razões, claro. Inclusive sobre a patrulha implacável que sofreu por ter-se casado, a certa altura da vida, com a ex-ministra da Economia de Collor, Zélia Cardoso de Mello.

O que me entristece é que não parecia lembrar-se mais do quanto foi respeitado por colegas, por críticos, pelo público – e, sobretudo, amado pelas multidões de brasileiros que divertiram na TV e em seus impagáveis shows.

Chico era brilhante. Escrevia roteiros brilhantes, sozinho ou com colaboradores. Sempre foi um vulcão de ideias e de criatividade – ninguém inventa mais de duzentos personagens marcantes sem ser um gênio.

Era um grande comediante e, para quem não sabe, também um grande ator no sentido amplo da palavra. Tinha um domínio de palco como poucos showmen de qualquer parte do mundo. Publicou livros divertidíssimos, que se tornaram best-sellers.

Ele se achava esquecido, mas se enganou, até porque, na TV, no cinema ou nos palcos, é inesquecível.
Morreu de amargura, e não precisava — nem merecia.

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