Sarney diz considerar “impossível” ressurreição da Arena
Para o senador, que presidiu o partido da ditadura militar, legenda é coisa “morta há muito tempo”
Sarney, que presidiu a antiga: a nova Arena, nos tempos de hoje, parece algo impossível
Em
entrevista concedida na tarde de hoje (segunda, 19), o presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP), comentou a ideia de recriação da Aliança
Renovadora Nacional (Arena), partido fundado em 1965 para dar
sustentação ao golpe militar do ano anterior. Eleito senador (1970-1978)
e nomeado, em 1979, presidente da legenda (que depois passaria a se
chamar PDS e é a base do atual PP), Sarney fez pausa de alguns segundos
antes de comentar a possibilidade – na última terça-feira (13), a
presidente da “Novo Arena”, a estudante gaúcha Cibele Bumbel Baginski
(23), que cursa direito da Universidade de Caxias do Sul (RS), publicou o
estatuto do partido no Diário Oficial da União.
Para o senador peemedebista, o partido extinto há cerca de 30 anos
não deve ser recriado, a despeito da ação dos jovens militantes
comandados por Cibele. “Nós estamos falando de coisas tão antigas, e
mortas há tanto tempo, que esta é uma ressurreição que acho impossível”,
declarou Sarney, que momentos antes havia falado sobre algo mais
“transcendente”, a vida, e das mortes provocadas na Guerrilha do
Araguaia e na Revolução Farroupilha. A entrevista foi concedida depois
de encontro com membros do Conselho Nacional do Ministério Público
(Conamp), que foram ao Senado pedir apoio à campanha “Conte até 10”, de
valorização da vida e coibição à violência. O lema da campanha é: “Conte
até 10. A raiva passa. A vida fica”.
Apesar da nomenclatura da nova legenda, que precisa passar pelo crivo
da Justiça eleitoral para ser criada, a estudante nega se tratar de um
retrocesso político-social. Defendendo a atuação de um partido de fato
conservador – o que seria a legítima “direita” –, em contraposição às
tendências de esquerda atualmente no poder, ela garante que não haverá
espaço para a identidade com práticas totalitárias da ditadura, nem
abrigará grupos extremistas como neonazistas ou fascistas.
Cibele diz já ter mais de 100 apoiadores distribuídos por 14 estados,
e que caminha para conseguir o número mínimo de assinaturas de adesão.
Depois de reconhecido o caráter jurídico da sigla, com o estatuto
formalizado no Diário Oficial, os fundadores da sigla precisam colher
491 mil adesões entre cidadãos brasileiros. O número equivale a 0,5% dos
votos válidos na eleição mais recente para a Câmara (2010), em ao menos
nove estados (um terço dos 27 entes federativos).
Antes de falar sobre a Arena, Sarney lamentou a escalada da violência
no país e disse que os atuais registros de criminalidade refletem a
“falta de consciência sobre o que é o sentido da vida”. “No Brasil, está
acontecendo uma coisa terrível, que é a banalização do crime de
homicídio. A vida desapareceu como o maior bem que um ser humano pode
ter. É preciso que um sujeito, ao matar, tenha a consciência de que está
perdendo a sua vida. Ele está destruindo uma vida, mas também perdendo a
sua”, acrescentou o peemedebista, mencionando estatísticas brasileiras
negativas sobre o assunto.
Fonte: Congresso em Foco
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