quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Fred Elias de Souza, ex-gerente de Negócios do Banco do Nordeste e autor das denúncias que derrubaram a cúpula do banco, afirma que não vale a pena dizer o que sabe no Brasil
NOVAS ACUSAÇÕES O
funcionário do Banco do Nordeste Fred de Souza. Suas denúncias levaram à
renúncia de dirigentes do Banco do Nordeste (Foto: Jarbas Oliveira/Ed. Globo)
Em setembro de 2011, Fred Elias de
Souza procurou o Ministério Público Estadual do Ceará com o objetivo de levar
ao conhecimento do promotor Ricardo Rocha fraudes que havia descoberto em
empréstimos do Banco do Nordeste (BNB). No começo de junho deste ano, ÉPOCA
revelou que uma auditoria interna do banco e outra da Controladoria Geral da
União haviam constatado que as denúncias iniciais de Souza eram procedentes e
que existiam vários outros empréstimos fraudulentos no banco. Só a auditoria
interna do BNB mostrou que 24 empresas lesaram a instituição em mais de R$ 100
milhões apenas em Fortaleza, apresentando notas fiscais falsas ou usando
laranjas para justificar empréstimos no banco. Duas semanas após a publicação,
quase toda a cúpula do Banco do Nordeste já havia sido trocada.
Quase cinco meses
depois, o autor das denúncias que derrubaram funcionários da alta cúpula,
gerentes e técnicos, afirma que se arrependeu. “Não vale a pena um cidadão
combater a corrupção no Brasil”, diz. Segundo ele, sua vida se tornou um
“inferno” após as denúncias. “Nunca pensei que não somente a minha vida, quanto
a da minha família, ia se tornar a mais completa e miserável situação que uma
pessoa pode viver”. Em setembro do ano passado, o promotor pediu ao banco que
providenciasse segurança a Fred de Souza. Ele negou. Desde então, escapou de um
tiro na rua e foi perseguido de moto duas vezes. Trabalha, desde o fim de 2011,
da meia-noite às 7h, avaliando o trabalho dos atendentes do Serviço de
Atendimento ao Cliente do Banco.
Souza responde na
Justiça da Bahia por uma das denúncias que fez, ainda não comprovada pelos
órgãos de fiscalização, e diz não ter condições de bancar os gastos com sua
defesa. “Estou tranquilo quanto a essa comprovação, mas, sinceramente, não
tenho como arcar com tantas despesas”, diz. Ele reclama de falta de
reconhecimento pelas revelações que fez. “Arrependo-me, pois o ônus da
moralidade e combate à corrupção é muito cruel, ainda mais quando se está só e
não há nenhum reconhecimento e ajuda”.
ÉPOCA -
Como era sua vida antes de procurar o Ministério Público e fazer as denúncias
de irregularidades no banco? Qual era seu cargo no banco?
Fred de Souza - Era tranquila, tanto no trabalho quantoem casa. Tudo era só
rotina. Gerenciava uma carteira de pessoa física em um Posto de Atendimento
dentro da Administração do Banco, só atendia funcionários. Era uma maravilha.
Quando acabava, ia para casa ficar com minha mulher e meus três filhos.
Fred de Souza - Era tranquila, tanto no trabalho quanto
ÉPOCA - O que mudou depois que suas
denúncias chegaram ao Ministério Público?
Souza - Foi como se eu tivesse aberto as portas do inferno e pedido pra
entrar. Nunca poderia imaginar a dimensão do problema e a legião de pessoas
envolvidas nas fraudes. Muito menos o montante envolvido, tanto internamente
quanto fora do Banco, nunca pensei que não somente a minha vida, quanto a da
minha família iria se tornar daí por diante a mais completa e miserável
situação que uma pessoa pode viver. Sem intenção, arrastei todos comigo, e o
preço está sendo muito caro. O promotor, Dr. Ricardo Rocha, chegou a me
oferecer o programa de proteção à testemunha, mas não pude aceitar, preferi
enfrentar aqui mesmo as consequências.
ÉPOCA - O
que aconteceu após as publicações das reportagens que mostravam as constatações
da Controladoria Geral da União e da auditoria interna do banco, em Fortaleza e
em Limoeiro, com relação às suas denúncias?
Souza - Foi excelente. Todos no Ceará e em grande parte do Brasil tomaram conhecimento do que estava acontecendo no BNB, os horrores que a antiga administração se esforçava em esconder tornaram-se públicos. Isso me deixou em paz, quanto às ameaças e atentados a mim e minha família que já tínhamos passado. Elas cessaram, muitos dos envolvidos souberam que eu não estava só, já que tudo estava sendo apurado por MPE, MPF, Polícia Federal, CGU, Banco Central. Não dependia mais de mim.
Souza - Foi excelente. Todos no Ceará e em grande parte do Brasil tomaram conhecimento do que estava acontecendo no BNB, os horrores que a antiga administração se esforçava em esconder tornaram-se públicos. Isso me deixou em paz, quanto às ameaças e atentados a mim e minha família que já tínhamos passado. Elas cessaram, muitos dos envolvidos souberam que eu não estava só, já que tudo estava sendo apurado por MPE, MPF, Polícia Federal, CGU, Banco Central. Não dependia mais de mim.
ÉPOCA - O
que o sr. esperava que acontecesse?
Souza - Esperava principalmente que todos os pilantras do banco que se prestaram a servir à roubalheira e os que se locupletaram fossem identificados e respondessem pelos desvios. Como também que os falsos empresários que lesaram o BNB pagassem por seus crimes e devolvessem o que foi surrupiado. Sei que é impossível reaver todos esses valores, mas acredito nas instituições que apuram o caso. Pena que ainda vai demorar bastante pra se concluir todas as fraudes.
Souza - Esperava principalmente que todos os pilantras do banco que se prestaram a servir à roubalheira e os que se locupletaram fossem identificados e respondessem pelos desvios. Como também que os falsos empresários que lesaram o BNB pagassem por seus crimes e devolvessem o que foi surrupiado. Sei que é impossível reaver todos esses valores, mas acredito nas instituições que apuram o caso. Pena que ainda vai demorar bastante pra se concluir todas as fraudes.
ÉPOCA - O
sr. denunciaria tudo novamente?
Souza - Não vale pena um cidadão combater a corrupção no Brasil. Tenho de me cercar de cuidados inimagináveis quanto à segurança minha e de meus familiares, mesmo tendo provado ao denunciar as irregularidades e viver 24 horasem sobressaltos. Estou
sendo processado criminalmente por um dos irmãos Meira, que até pouco tempo
ocupava a Superintendência do BNB da Bahia. Terei que responder na Justiça da
Bahia minhas acusações. Sei que temos que responder por nossas atitudes, estou
tranquilo quanto a essa comprovação, tanto que a Direção do BNB retirou o irmão
dele do cargo. Mas, sinceramente, não tenho como arcar com tantas despesas.
Trabalho no BNB desde os 15 anos, estou há 30 anos lá, só sei fazer isso, ser
bancário. E espero me aposentar um dia por lá. Quero ver sempre a Instituição
forte e merecedora do papel que lhe foi atribuída, que é de servir e
desenvolver a região Nordeste. Eu me arrependo, pois o ônus da moralidade e
combate à corrupção é muito cruel, ainda mais quando se está só e não há nenhum
reconhecimento e ajuda.
Souza - Não vale pena um cidadão combater a corrupção no Brasil. Tenho de me cercar de cuidados inimagináveis quanto à segurança minha e de meus familiares, mesmo tendo provado ao denunciar as irregularidades e viver 24 horas
ÉPOCA - O
que sr. espera da nova diretoria do banco? Acredita que algo vai mudar?
Souza - Espero que a desvinculação política do BNB seja mantida e cada vez mais aprimorada. Espero também que os envolvidos já identificados sejam exemplarmente punidos e afastados e que os demais envolvidos ainda ocupantes de cargos importantes também sejam exonerados, pois há muitos casos dessas pessoas que não foram arroladas ou apontadas por falta de interesse. Mas eu os conheço. E, por fim, quero dizer que nada fiz por visar cargo ou alguma outra premiação, já que só tenho gasto e despesas do pouco que me sobra e um simples reconhecimento da Instituição pelos serviços prestados já nos bastaria.
Souza - Espero que a desvinculação política do BNB seja mantida e cada vez mais aprimorada. Espero também que os envolvidos já identificados sejam exemplarmente punidos e afastados e que os demais envolvidos ainda ocupantes de cargos importantes também sejam exonerados, pois há muitos casos dessas pessoas que não foram arroladas ou apontadas por falta de interesse. Mas eu os conheço. E, por fim, quero dizer que nada fiz por visar cargo ou alguma outra premiação, já que só tenho gasto e despesas do pouco que me sobra e um simples reconhecimento da Instituição pelos serviços prestados já nos bastaria.
ÉPOCA – O
sr. pretende continuar no banco ou procurar outro emprego?
Souza - Sim. Como falei, só aprendi na vida a ser bancário. Quero ficar no Banco, gosto muito dele. Mas só não gostaria de ficar execrado, e eternamente no limbo, trabalhando sozinho, à noite, como fui forçado a ir. Não fui eu que pedi pra sair do meu posto de trabalho.
Souza - Sim. Como falei, só aprendi na vida a ser bancário. Quero ficar no Banco, gosto muito dele. Mas só não gostaria de ficar execrado, e eternamente no limbo, trabalhando sozinho, à noite, como fui forçado a ir. Não fui eu que pedi pra sair do meu posto de trabalho.
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