A ditadura da moda é socialista
Tenho certeza de que o leitor já escutou por aí a expressão “ditadura da moda”. Invariavelmente, da boca de “intelectuais” que costumam demonstrar profundo antiamericanismo e anticapitalismo. A moda, alegam, é “imposta” pelo mercado, todos precisam seguir as regras burguesas, adequar-se ao modismo do momento, criado para o lucro dos capitalistas.
Qual a realidade? Basta ir a um shopping center para ver que esse discurso é absurdo. Há de tudo, para todo gosto, para todo bolso. Uma verdadeira miscelânea de grifes, estilos, modelos. E é bom que assim seja. Afinal, a roupa, o corte de cabelo, o estilo, tudo faz parte de nossa identidade. É nossa carta de apresentação, onde já tentamos mostrar a nossa “tribo”.
Socialistas não gostam disso. As utopias coletivistas aboliam essa diferenciação, essa identidade singular. Em Cidade do Sol, de Tommaso Campanella, há um culto coletivista, tratando homens como abelhas, que trabalham para a felicidade da “colmeia”. Sugere roupas iguais, tudo igual, e os filhos também serão propriedade “comum”.
Todos iguais, mas sempre uns mais iguais que os outros. Os tais “sábios” sempre entram em cena, para comandar o show. Isso vem desde Platão e sua República. Os indivíduos são apenas ratos de laboratórios, ferramentas “científicas”, que devem sucumbir ao “coletivo”, representado aqui pelo líder.
O escritor inglês L.P. Hartley, em Facial Justice, comentada no excelente livro de Helmut Schoeck sobre o tema da inveja, intitulado Envy: a Theory of Social Behaviour, chegava a uma conclusão lógica, expressada por Schoeck em seu livro, sobre a estranha tentativa moderna de legitimar o invejoso e sua inveja, de forma que qualquer um capaz de despertar inveja seria tratado como antissocial ou criminoso.
Em vez de o invejoso ter vergonha de sua inveja, é o invejado que deve desculpas por ser diferente, melhor. Há uma total inversão dos valores, explicada apenas por uma completa aniquilação do indivíduo em nome da igualdade coletivista. Como conclui Schoeck: “O desejo utópico por uma sociedade igualitária não pode ter surgido por qualquer outro motivo que não a incapacidade de lidar com a própria inveja”.
A heroína da novela de Hartley chama-se Jael, uma mulher que, desde o começo, não se conforma com a visão igualitária, recusando-se a aceitar que pessoas mais bonitas ou inteligentes devessem se anular como indivíduos por causa da inveja alheia. A obra se passa no futuro, depois de uma Terceira Guerra Mundial, e as pessoas são divididas de acordo com o grau de aparência. A meta era obter uma igualdade facial, pois a material já não bastava para acabar com a inveja: alguns sempre terão algo que os outros não têm.
Havia um Ministério da Igualdade Facial, e a extirpação dos rostos tipo Alfa, os mais belos, não era suficiente, uma vez que os de tipo Beta ainda estavam em patamar superior aos Gama. Enquanto todos não tivessem a mesma aparência, não haveria “justiça”. Ninguém poderia ser um “desprivilegiado facial”. Hartley combate a utopia dos igualitários, mostrando que a equiparação financeira jamais aboliria a inveja na sociedade. Durante sua vida, demonstrou aversão a todas as formas de coerção estatal.
Tudo isso, claro, foi para chegar à nova excentricidade do ditador comunista da Coreia do Norte, que decidiu que todos os universitários do país deverão adotar o mesmo corte de cabelo: o dele. O mimado tirano quer uma legião de clones, todos feitos à sua imagem e semelhança:
O governo norte-coreano já havia definido há anos modelos de cortes de cabelo dos cidadãos do país. A TV estatal inclusive fez campanha contra o cabelo comprido, propondo aos cidadãos que aparassem suas cabeleiras “de acordo com o estilo de vida socialista”. Atualmente as mulheres têm a permissão de escolher entre 18 estilos de corte de cabelo. Os homens têm menos opção: apenas 10.
Da próxima vez que o leitor escutar algum “intelectual” condenando o capitalismo, o liberalismo, acusando a “ditadura do mercado” ou a “ditadura da moda”, lembre-se de que quem costuma impor, sob coerção, a mesma “moda” igualitária, inspirada sempre em um narcisismo exagerado ou na profunda inveja, são justamente os socialistas e comunistas.
Os capitalistas liberais respeitam as diferenças, e no campo da moda, é por isso que há tanta opção e fartura nos países mais capitalistas e liberais.
Rodrigo Constantino
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