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terça-feira, 4 de março de 2014

BALA DE QUÊ ?

O trem-bala sairá do papel?


O governo já tem um projeto para a ligação ferroviária de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro. Só falta conseguir R$ 18 bilhões
POR CELSO MASSON

O TBB, Trem-Bala Brasileiro, já existe. Ele viaja a uma velocidade média de 285 quilômetros por hora, o que permite fazer o trajeto entre São Paulo e Rio de Janeiro em menos de uma hora e meia. O bilhete custa R$ 120, e as partidas são a cada 15 minutos. Dos 403 quilômetros da linha, quase 60% são percorridos em túneis, pontes e viadutos. Por enquanto, tudo funciona – no papel e em apresentações de computador. Mas a crise nos aeroportos brasileiros está fazendo o governo se mexer para que a nova ligação ferroviária entre as duas maiores cidades do país se torne realidade em breve.
No que depender do governo, o TBB começará a funcionar em 2015. É essa a data que consta do projeto elaborado pelo Ministério dos Transportes e aprovado em abril pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A Lei Federal no 11.297, regulamentando a construção da linha de alta velocidade não só entre Rio e São Paulo, mas com extensões para Belo Horizonte e Curitiba, foi assinada pelo presidente Lula em maio de 2006. “O projeto executivo já está pronto”, afirma José Francisco das Neves, presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., uma empresa pública controlada pela União e encarregada de coordenar os estudos, iniciados há três anos. Segundo Neves, do ponto de vista técnico só falta concluir estudos ambientais, que contam com acompanhamento do Ibama, e arqueológicos. “Depois da entrega dos relatórios ambientais, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) poderá lançar o edital de licitação para a obra.”
A ponte ferroviária
Os números divulgados sobre o projeto do TBB (trem-bala brasileiro), previsto para ligar São Paulo ao Rio de Janeiro
1.Comprimento total da linha 403 km
2. Velocidade média 285 km/h
3. Freqüência dos trens 15 minutos
4. Trecho do trajeto em túneis 132 km
5. Trecho em viadutos e pontes 105 km
6.Passageiros por trem 855
O TEMPO
da viagem deverá ser de 85 minutos, e a previsão é que a tarifa custe R$ 120. Uma possível parada no aeroporto de Cumbica está em estudo

Há três décadas se fala no trem-bala, sem que a idéia seja posta em prática. Se não houver obstáculos, a construção da ferrovia deverá começar no início do ano que vem. Isso, claro, se o dinheiro aparecer. O TBB custa R$ 18 bilhões, e o governo já declarou que não vai colocar dinheiro na obra. Na semana passada, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, esteve na Itália para conhecer mais detalhes da proposta apresentada pela empresa Italplan, interessada em participar da concorrência. A ministra aproveitou a viagem para tratar do assunto com o Banco Internacional Europeu, um potencial investidor. Entusiasmada com o projeto, Dilma tem discutido com o Ministério dos Transportes aspectos como demanda, tarifa e conexões. Por enquanto, a proposta é que não haja paradas, mas a possibilidade de levar passageiros até o aeroporto de Cumbica, na Grande São Paulo, consta do projeto.
Ainda que a viagem de Dilma dê sinais de aproximação com o grupo italiano Italplan, o presidente da Valec garante que há interesse de outros países. A França e o Japão, onde o trem de alta velocidade existe há décadas, também estão no páreo, assim como a Coréia do Sul. Até agora, ninguém mostrou o dinheiro.
Para convencer investidores de que o negócio é lucrativo, o governo precisa comprovar que há demanda para um trem de passageiros entre as duas maiores cidades brasileiras. A última tentativa foi com o Trem de Prata, empreendimento privado que funcionou entre 1994 e 1998. Pesa contra a implantação do trem-bala o fato de haver no país apenas uma linha regular que não seja de carga ou turística. É a Estrada de Ferro Vitória a Minas, construída em 1904 e incorporada à Companhia Vale do Rio Doce. A empresa declara transportar por ali 1 milhão de pessoas anualmente. Só que boa parte é formada por funcionários da própria Vale.
DEVAGAR
Além do trem-bala, outro projeto prevê levar passageiros de Curitiba para Foz do Iguaçu. Ao lado, desenho do interior do vagão
A atual ausência de linhas regulares leva a outra pergunta: o que falta no Brasil são trens ou passageiros? Ambos, já que a atual malha ferroviária do país foi totalmente adaptada para o transporte de carga. As exceções são trechos curtos em que há passeios turísticos. Um deles é a ligação entre Curitiba e Paranaguá, no litoral paranaense. A Serra Verde Express, empresa que há dez anos explora o percurso, está expandindo sua atuação com um novo trajeto, entre as cidades de Castro e Cascavel, também no Paraná. A idéia é atrair turistas estrangeiros em um passeio que vai durar um dia e meio, terminando em Foz do Iguaçu, o segundo destino turístico mais procurado do país, atrás apenas do Rio de Janeiro. A viagem ocupará momentos de ociosidade no transporte de carga do trajeto. “Vamos trabalhar com um calendário específico, que terá quatro viagens mensais. Será um trem de luxo, e nossa expectativa é oferecer apenas 60 bilhetes de cada vez”, diz o diretor-comercial, Adonai Arruda Filho. A empresa está investindo R$ 2 milhões no projeto, sendo que R$ 300 mil serão gastos apenas na reforma de duas litorinas, uma espécie de jardineira ferroviária com motor e vagão em uma só peça. A previsão da Serra Verde é que a primeira viagem seja feita em novembro deste ano.
“Para colocar o brasileiro novamente nos trilhos, é preciso combinar transporte de carga e de passageiros na mesma ferrovia”, diz Délio Moreira de Araújo, professor de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Goiás. Desde 2003, ele tem insistido em um plano de ligação ferroviária entre Brasília e Goiânia, o Trem de Alto Desempenho. O projeto prevê oito paradas entre as duas cidades, que distam cerca de 190 quilômetros uma da outra. A viagem seria feita em pouco mais de uma hora e meia. “Nossos estudos mostram que nesse trecho a demanda chega a 16 mil passageiros por dia.” Assim como no trem-bala ligando o Rio a São Paulo, a estrada de ferro entre Brasília e Goiânia teria de ser construída do zero. Por enquanto, não há sequer previsão de custo para a obra. Mesmo assim, Araújo diz que seu projeto tem sido bem recebido pelos governos estadual e distrital. Para o Ministério dos Transportes, a demanda de passageiros na região não justifica o investimento em novos trilhos.
Nos países que adotaram o trem de alta velocidade, ele se tornou uma ferramenta para o desenvolvimento econômico. Deslocar passageiros mais rápido facilita os negócios e reduz os custos das empresas, fator de competitividade que ficou ameaçado com o apagão aéreo. O TBB prevê integrar ainda mais Estados que, juntos, correspondem a 45% do PIB. Por isso, a ministra Dilma Rousseff tem tratado o projeto no âmbito do PAC, o programa de aceleração da economia. Resta saber se desta vez o trem vai andar. E por quanto tempo. 
Fotos: Alain Nogues/Corbis/Latin Stock e divulgação 


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