Continuidade ...Movimento Cívico-Militar
Urge não esquecer de que "A Justiça é a primeira das Virtudes", como sentenciava São Paulo Apóstolo.
e. Passaremos a contestar a afirmação, hoje tão correntia, de que a Revolução Democrática de 1964 foi uma "ditadura militar" que levou o país aos "anos de chumbo". Lembremo-nos, inicialmente, de que todos os cinco presidentes revolucionários, tachados, de forma indevida e injusta, de "ditadores", foram eleitos legal e constitucionalmente, estando em pleno funcionamento os três Poderes da República! Um importante adendo: as liberdades constitucionais somente foram cerceadas a notórios e empedernidos perturbadores da paz pública e a frios e desalmados terroristas. E ainda: é por demais consabido por juristas e cientistas sociais, que o único organismo internacional que trata da análise dos governos em todo o mundo, sob esse aspecto, ou seja, se de "estrutura democrática" ou de "estrutura totalitária" - para usarmos as expressões por ele utilizadas -, é o Tribunal (ou Corte) Internacional de Justiça da ONU (o "Egrégio Pretório" desta Organização) sediado em Haia, na Holanda, também conhecido como "Tribunal ou Corte de Haia" (não confundir com o Tribunal Penal Internacional - TPI). A dita Corte preconiza como sendo de estrutura democrática, aqueles países que obedecem a seis fundamentos básicos: três deles são os pilares da democracia grega e os demais, típicos das democracias modernas. Dos gregos, são considerados os princípios da isonomia legal (ou seja, "todos são iguais perante a lei"); da isotimia (princípio da representatividade: "todos têm o direito de exercer funções públicas administrativas e de constituir um seu representante ou paráclito", como um advogado, um prefeito, um deputado, etc) e da isagoria (em alusão às ágoras, locais onde os gregos discutiam os seus problemas, por meio da democracia direta: vale dizer, a liberdade de reunião e de expressão, desde que não atentatórias às leis estabelecidas; este direito é negado aos democratas, pelos seguidores da ideologia marxista-leninista). Da democracia moderna exsurgem três outras condicionantes: a existência de eleições (independentemente se diretas ou indiretas); o pluripartidarismo (em oposição ao partido único dos regimes totalitários) e a rotatividade (alternância) no poder. Pois bem: o Brasil, ao tempo dos governos militares, cumpriu tais mandamentos, tanto que o mencionado Tribunal, à época, não nos classificou como país de "estrutura totalitária". Inegavelmente, como não poderia deixar de ser, em face da atmosfera político-social vivenciada, esses governos foram autoritários, de força, por vezes discricionários e de exceção (como na edição do Ato Institucional n° 5, o AI-5, e em três ocasiões, quando o Congresso Nacional foi temporariamente fechado, tudo para a imprescindível defesa dos primados revolucionários), porém jamais se constituíram, técnico-juridicamente, em uma ditadura, como foi a de Getúlio Vargas, para não se falar nas infames, opressoras e cruéis "ditaduras do proletariado", com os seus regimes genocidas de mais cento e dez milhões de mortos, dos "gulags", das masmorras, das torturas e dos "paredões", que envergonham a humanidade. Os parâmetros a esse respeito têm de existir e existem, sim, consoante o superior e douto magistério da "Corte de Haia", como observamos anteriormente, para que não prevaleça o subjetivismo amador ("achismo"), inconsequente e irresponsável, como sói acontecer entre nós, muito desafortunadamente.
4. Aspectos de relevante historicidade relativos à Contrarrevolução de 1964
a. Não é escopo deste Estudo, a abordagem minudente de fatos ocorridos por ocasião das operações militares revolucionárias. Isso está narrado nos mínimos detalhes pelos Registros Históricos Anuais das Organizações Militares do Exército, partícipes do Movimento, referentes a 1964 e aos anos que o antecederam e sucederam. Tais Registros (que são as principais e mais fidedignas fontes, pois primárias!) eram custodiados pelo Centro de Documentação do Exército, em Brasília, até a sua recente e infeliz desativação, e cujo acervo foi enviado para o Rio de Janeiro. Os episódios mais emblemáticos também estão descritos em vários livros, revistas e jornais (como nas edições históricas do Jornal Inconfidência, de Belo Horizonte) e, principalmente, na coletânea "História Oral do Exército", de título "1964 - 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História", publicada pela Biblioteca do Exército, já no seu 13° tomo. Ademais, não é nosso desiderato o resgate histórico nem a elucidação de notáveis ocorrências pontuais – tantos já o fizeram - eis que quase tudo já foi desvelado pela vasta bibliografia existente e que pode ser compulsada com percuciência científica. Mas gostaríamos, sim, de recordar fatos pouco explorados, a nosso entender.
b. Inicialmente, registre-se que a Revolução foi deflagrada no dia 30 de março (e não 31) de 1964, em Minas Gerais, pelo governador Magalhães Pinto (que já no dia 20 de março, havia lançado, em cadeia de rádio e televisão, um primeiro Manifesto contra as atitudes de João Goulart), em reunião iniciada às 1000 h e encerrada às 1330 h, na casa do secretário do Interior, Oswaldo Pierucetti, que contou com a presença do secretariado do governo mineiro, do general Luís Guedes, comandante da Infantaria Divisionária da 4ª Divisão de Infantaria, com sede em Belo Horizonte, e do coronel José Geraldo, comandante da Polícia Militar de Minas Gerais. Na ocasião, foi lido o "Manifesto de Minas" em que o estado se considerava desvinculado da União, até à substituição do presidente da República. Em seu livro "Tinha que Ser Minas" (Editora Nova Fronteira SA, RJ, 1979) afirma o general Guedes, no capítulo da página 202, de título "30 e não 31 de março de 1964", o que se segue: "Nesta hora (14 horas) de 30 de março de 1964, que rigorosamente marca o início da Revolução Mineira, dei-lhes ciência [referia-se aos seus oficiais da ID/4] do Movimento que estava eclodindo, com as seguintes palavras: Minas está rebelada, com a minha concordância e integral apoio; a partir deste momento, nos desligamos do Governo Federal e passamos a constituir Força autônoma integrada na Revolução; não nos conformamos em assistir, passivamente, ao desenrolar dos acontecimentos, que, fatalmente, nos conduzirão à anarquia e ao caos". Aduza-se que desde a tarde daquele dia, foi desencadeada em todo o estado, pelas Polícias Militar (há dias com os seus batalhões completamente mobilizados e aquartelados, totalizando 18.000 homens) e Civil e pela Guarda Civil de Belo Horizonte, em combinação com a 2ª Seção da ID/4, uma mega-operação, a "Operação Gaiola" que prendeu inúmeros subversivos, ocupou sedes de partidos políticos, sindicatos, etc. Além disso, as fronteiras (divisas) de Minas Gerais com os demais estados foram bloqueadas por contingentes da PMMG que também passaram a controlar, rigorosamente, por meio de barreiras policiais, os principais eixos rodoviários e ferroviários e ocuparam pontos sensíveis, como as represas de Furnas e Três Marias, centrais de abastecimento de água, todos os postos de gasolina, casas de armas e munições, bancos, prédios públicos, etc, etc. Concomitantemente, foi posta em execução a "Operação Silêncio", com a ocupação do Departamento dos Correios e Telégrafos (DCT), da Central Telefônica Brasileira (CTB), de jornais, de emissoras de rádio e TV, etc, impondo-se a censura em todas as mídias. Tais preliminares e eficazes providências, de cunho policial (adrede, minuciosa e sigilosamente planejadas pela Secretaria de Segurança Pública de Minas), garantiram a completa segurança das ações militares posteriormente deflagradas. Consigne-se, ainda, que a Base Aérea de Belo Horizonte, ao comando do coronel aviador Afrânio Aguiar, integrou-se, militarmente coesa, à Revolução. No dia 31 de março, também se iniciou, na capital mineira, a mobilização civil, no Grupo Escolar Pandiá Calógeras, ao encargo do general da reserva José Lopes Bragança, irmão do desafortunado tenente Benedicto Lopes Bragança, assassinado, covardemente, quando da Intentona Comunista, em 27 de novembro de 1935, na Escola de Aviação Militar, no Rio de Janeiro. Cada voluntário recebia uma braçadeira verde-amarela com um triângulo no centro, para portar no braço direito, símbolo do levante mineiro. Após o primeiro dia, o número de apresentados já ultrapassava a casa dos 10.000. E digamos mais: igualmente, milhares de voluntários civis se apresentaram quando das convocações, em outros estados, particularmente em São Paulo, que conclamava, especialmente a juventude, por meio de uma cadeia de rádio e televisão, denominada "Rede da Democracia", semelhante à "Cadeia da Liberdade", de Minas Gerais. Assinale-se em complementação ao assunto, que o estado de polarização no país era por demais extremado e preocupante. Para se contrapor às ações perpetradas pelos "Grupos dos Onze" e pelas "Ligas Camponesas", bem como às atividades subterrâneas de comunistas nas Polícias estaduais e nos meios estudantil (particularmente no universitário) e sindical, foram formados em vários estados brasileiros, bem antes de março de 1964, grupos paramilitares. Eram tropas de choque (milícias particulares muito bem organizadas), aguerridas, treinadas, fortemente armadas e municiadas, ditas "de direita". O que mais se dedicou a esse mister, desde os anos próximos ao de 1964, foi o governador de São Paulo, Adhemar de Barros, que também intensificou o adestramento de suas Polícias Civil e Militar. Portanto, estávamos deveras sobre um barril de pólvora que explodiria, mais cedo ou mais tarde. Com a vitória da Contrarrevolução, tudo voltou ao normal e os voluntários mobilizados, além dos mencionados grupos, foram devidamente desmobilizados e desarmados, evitando-se um doloroso derramamento de sangue, por meio de uma prolongada e catastrófica guerra civil, que, certamente, teria a indesejável participação alienígena. Assim, naquele bendito ano de 1964, após a derrota comuno-sindicalista, não é exagero dizer-se que houve, de fato, uma autêntica e incontestável Pacificação em todo o Brasil, por força da atuação do Exército, basicamente. Mas retornemos ao fio da meada: em suma, Minas Gerais estava completamente sublevada. Todavia, o general Mourão Filho, comandante da 4ª Divisão de Infantaria, sediada em Juiz de Fora, não participou nem teve informação prévia sobre a reunião e o Manifesto do governo de Minas, o que o deixou furioso com o governador e com o general Guedes, fato que narra em detalhes no seu livro "Memórias: A Verdade de um Revolucionário" (L&PM Editores, Porto Alegre, 1978). Entretanto, 15 horas e meia depois da reunião de Belo Horizonte, ou seja, às 0500 horas de 31 de março, este general decide partir na direção da Guanabara, constituindo o "Destacamento Tiradentes". Como conclusão, que fique muito claro que a Revolução eclodiu em Belo Horizonte, em 30 de março de 1964, sendo o governador José de Magalhães Pinto, o seu grande líder civil, que contou com o decisivo apoio do comandante da ID/4, general Carlos Luís Guedes e do comandante da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel José Geraldo de Oliveira; e o comandante militar, que determinou o deslocamento das tropas em direção ao Rio de Janeiro, foi o general Olympio Mourão Filho, no comando da 4ª Região Militar/4ªDivisão de Infantaria, secundado pelo comandante do citado Destacamento, general Antônio Carlos da Silva Muricy, cujo chefe de Estado-Maior era o tenente-coronel Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, futuro ministro do Exército, tendo permanecido em Belo Horizonte, nesse primeiro momento, o governador e o general Guedes.
c. As tropas do "Destacamento Tiradentes" (integrado por Unidades do Exército e por dois batalhões da PMMG) iniciaram o seu deslocamento, às 1230 h, de 31 de março, consoante o histórico Boletim Especial, de 9 de maio de 1964, "Relatório da Revolução Democrática iniciada pela 4ªRM/DI, em 31 de março de 1964", exarado pela dita Região Militar, constando às folhas 6, o que se segue: "Às 1230 h, o 10° RI [sediado em Juiz de Fora] iniciou seu deslocamento para o Sul", etc, etc. Aqui, uma curiosidade: por que "Destacamento Tiradentes"? No documento "Relatório das Atividades do Destacamento Tiradentes", de 7 de abril de 1964, assinado pelo general Mourão Filho, consta a seguinte dicção, na primeira página: "O Destacamento foi constituído por tropas da Guarnição Federal da 4ª RM-DI e da Polícia Militar de Minas Gerais e, como homenagem ao espírito que irmanava todos os seus integrantes, bem como a todos os mineiros, foi denominado DESTACAMENTO TIRADENTES, para simbolizar o ideal de: "Libertas Quae Será Tamen".
O deslocamento se fez pela rodovia BR-3, de Juiz de Fora a Petrópolis; daí, até à Fábrica Nacional de Motores, na Baixada Fluminense, e de lá para o Rio de Janeiro, tendo o Destacamento chegado naquela cidade, no dia 2 de abril, ficando acantonado no Estádio do Maracanã. Em 6 de abril, deu-se o retorno a Minas Gerais, pois a Missão fôra airosamente cumprida.
O comandante do I Exército e ministro da Guerra interino (eis que o ministro efetivo, general Jair Dantas Ribeiro encontrava-se hospitalizado), general Moraes Ancora, deu ordens para que a 1ª Divisão de Infantaria (1ª DI), do Rio de Janeiro, ao comando do general Oromar Osório, tendo como comandante da Infantaria Divisionária, o general Cunha Melo, rumasse para Minas Gerais a fim de barrar as tropas mineiras. O encontro com a 1ª DI ocorreu junto ao rio Paraibuna, nos arredores do município fluminense de Três Rios, na madrugada de 1° de abril. Mas não houve combate, pois às 0500 h daquele dia, a vanguarda da Divisão, constituída pelo legendário 1° Regimento de Infantaria – o Regimento Sampaio – partícipe glorioso da Guerra do Paraguai e da 2ª Grande Guerra, adere à causa revolucionária e passa, uno e coeso, para o lado do "Destacamento Tiradentes", no que é imitado por quase todas as tropas da referida 1ª DI. Tal importante episódio se constituiu em um essencial ponto de inflexão nas operações militares, pois a progressão do Destacamento, assaz reforçado com as adesões recebidas, se faria sem qualquer empecilho. Não houve maiores problemas de cunho militar, até a chegada ao Rio de Janeiro. O retorno a Minas, no dia 6 de abril, foi bastante auspicioso, sendo as tropas recebidas, apoteoticamente, por delirantes massas humanas, particularmente em Juiz de Fora, São João Del Rei e Belo Horizonte.
Acrescente-se que no dia 2 de abril, o general Mourão Filho determinou a constituição de um Grupamento Tático, o GT/12, composto por tropas do Exército, com base no 12º RI (menos o 2° batalhão, integrante do "Destacamento Tiradentes") e dois batalhões da PMMG, que se deslocou, naquele dia, de Belo Horizonte para Brasília, com a finalidade de consolidar a Revolução na Capital Federal. Tal Grupamento foi batizado de "Destacamento Caicó", em alusão à terra natal do potiguar, coronel Dióscoro Vale, comandante do 12° RI. A tropa regressou a Minas Gerais, orgulhosa do dever cumprido, no dia 16 de abril.
Outrossim, registre-se, por digno de nota, o fato de que a 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha, com sede em Juiz de Fora (MG), oriunda da 4ª RM/DI, ostenta, com superlativa ufania, a denominação histórica de "Brigada 31 de Março" e o respectivo estandarte histórico, veneráveis honorificências que a vinculam, perenemente, assim como o glorioso e invicto Exército Brasileiro, ao memorável Movimento revolucionário que partiu daquela cidade, em 31 de março se 1964, como narrado linhas atrás.
d. Pouco antes da meia noite de 31 de março, o general Amaury Kruel, comandante do II Ex, com sede em São Paulo (SP), após tentar com o seu amigo João Goulart, sem que obtivesse êxito, uma solução conciliadora - mas que contrariava os interesses comuno-sindicalistas do governo -, resolve aderir à Revolução. Para tanto, decide partir para a Guanabara, no dia 1° de abril, ao longo da BR-2, mantendo contato, às 0230 h com o comandante da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), general Emílio Garrastazu Médici, informando-o dessa decisão. O general Médici, que já havia recebido, às 0200 h, solicitação do general Costa e Silva, para que a Academia participasse do Movimento, responde ao general Kruel que a AMAN se integraria à Revolução e garantiria a livre passagem do II Ex pela região de Resende, entre as cidades de Itatiaia e Barra Mansa. Às 0830 h, do dia 1º de abril, a Academia lança uma Vanguarda, constituída pelo Corpo de Cadetes, para o estabelecimento de uma Posição Defensiva (PD), pelo Curso de Infantaria, nas alturas do Km 120, da BR-2, na região de Barra Mansa, a fim de bloquear aquela via de acesso no sentido Rio-São Paulo. O comandante da Academia também emitiu uma vibrante proclamação, intitulada "Irmãos em Armas", explicativa das razões da histórica decisão tomada.
Ainda pela manhã do dia 1°, o comandante do I Ex e ministro interino, general Ancora, determinou o deslocamento do Grupamento de Unidades Escola (GUEs), do Rio de Janeiro, comandado pelo general Anfrísio da Rocha Lima, na direção de São Paulo. O contato entre as tropas foi estabelecido, mas não houve ações de guerra, em face, principalmente, do fato de que o GUEs teria de combater contra jovens cadetes imbuídos de sentimentos cristãos e democráticos, além de muito bem preparados, psicologicamente, pelo estudo da matéria "Guerra Revolucionária" que lhes era curricularmente ministrada. Às 1800 h, reuniram-se na AMAN, os generais Ancora, Kruel e Médici, ficando decidido pelo primeiro deles (comandante do I Exército e também ministro da Guerra interino) que todos deveriam se recolher a quartéis, pois a Revolução estava consolidada. Uma curiosidade: esses três oficiais generais eram oriundos da Arma de Cavalaria, gaúchos, sendo os dois primeiros, da mesma Turma de 1921, da Escola Militar do Realengo, e ex-integrantes da FEB. Aduza-se que os cadetes foram empregados militarmente, pela segunda vez, na História Militar do Brasil, eis que, em 1935, a Escola Militar do Realengo, ao comando do inesquecível coronel João Baptista Mascarenhas de Moraes, combateu o mesmo inimigo comunista, que, em 1964, 29 anos depois, também nos assolava.
Como corolário, é imperioso dizer-se, que a AMAN estabeleceu uma Missão bem definida em sua Ordem de Operações: "Empregar o Corpo de Cadetes para impedir o acesso das forças do I Exército à região de Resende, até à chegada do II Exército". Não era a sua finalidade separar dois Exércitos na iminência de um combate, como afirmam alguns, de forma equivocada.
e. No dia 2 de abril, o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assume a presidência da República, em face da vacância do cargo.
f. No Nordeste, região convulsionada pela atuação de perigosos e fanáticos grupos subversivos, como as "Ligas Camponesas" (dispunham de armamento, munição, uniformes, etc, e campos de treinamento militar), rápida e extremamente eficaz foi a ação do IV Exército, sediado em Recife (PE), unido e coeso em torno dos ideais do Movimento que eclodira em Minas Gerais e de seu comandante, general Justino Alves Bastos. As principais lideranças comunistas foram presas, houve a ocupação de áreas estratégicas e pontos sensíveis, em toda a extensa região, e a deposição e prisão dos governadores de Pernambuco, Miguel Arraes (em 1° de abril), e de Sergipe, Seixas Dória (2 de abril), ambos, posteriormente, confinados na ilha de Fernando de Noronha.
g. Entretanto, a situação ainda estava indefinida no Rio Grande do Sul. João Goulart, Leonel Brizola e os generais Ladário Pereira Teles (que assumiu o comando do III Exército, que lhe foi passado pelo general Benjamin Galhardo), Assis Brasil e outros, encontravam-se em Porto Alegre. Leonel Brizola desejava resistir, tendo lançado várias conclamações aos Sargentos, incentivando-os a tomar os quartéis e prender os oficiais "gorilas". Em face da incerteza reinante, eis que algumas Unidades em Porto Alegre e São Leopoldo eram comandadas por oficiais sabidamente alinhados com o governo federal, o governador Ildo Meneghetti passou a governar da cidade de Passo Fundo e o general Adalberto Pereira dos Santos, comandante da 6ª Divisão de Infantaria, transferiu o seu comando para Cruz Alta. Diga-se que a conjuntura sócio-política no estado era completamente diferente da vivida em 1961, quando da "Campanha da Legalidade". O governador Meneghetti tinha o total apoio da Brigada Militar (é a Polícia Militar do RS) e da Polícia Civil que já haviam posto em execução operações de prisão dos principais líderes esquerdistas, em especial dos "Grupos dos Onze" e ocupado pontos sensíveis, veículos de comunicação de massa, etc. Então, é uma FALÁCIA o que posteriormente alardeou o falecido e falastrão ex-governador Brizola, de que poderia convocar mais de 100.000 gaúchos para a resistência, não o tendo feito porque João Goulart não consentiu, a fim de evitar derramamento de sangue (mas bem que ele tentou, porém não logrou êxito, com os seus patéticos apelos aos sargentos...).
As tropas das 3ª e 6ª Divisões de Infantaria, a partir de Santa Maria e Cruz Alta, ao comando, respectivamente, dos generais Poppe de Figueiredo e Adalberto dos Santos cerraram sobre Porto Alegre. A 5ª Região Militar/Divisão de Infantaria (PR e SC) era comandada pelo general Silvino da Nóbrega, que estava em férias fora da guarnição, assim como o general Crisanto Figueiredo, comandante da Infantaria Divisionária. Esses oficiais eram do esquema presidencial, pelo que assumiu o comando da Região Militar, o general Dario Coelho, comandante da Artilharia Divisionária. A 5ªRM/DI, então, passou, de ordem do ministro da Guerra, general Costa e Silva, ao comando do II Exército, que confirmou o general Dario no comando que assumira, e que contava com o apoio do governador paranaense Ney Braga.
Às 1830 h, de 3 de abril de 1964, o governador Ildo Meneghetti e o general Mário Poppe de Figueiredo entram, triunfalmente, embarcados em um jipão aberto, na capital gaúcha, onde este general assume o comando do III Exército (João Goulart e os que o acompanhavam, não mais se encontravam na cidade).
Este foi o feliz e glorioso epílogo do vitorioso Movimento Civil e Militar que se iniciou em Minas Gerais, às 1330 h, de 30 de março de 1964, sem mortos e feridos, e que na linha de um tempo prenhe de historicidade, teve a duração de quatro dias e cinco horas (101 horas) que abalaram o País e obstaram a eclosão de uma terrível e sanguinolenta guerra civil, de imprevisíveis consequências. O Brasil, mercê da Revolução de 1964 e de seu Exército, não se engolfou em uma trágica luta fratricida, e não houve, por aqui, um hediondo banho de sangue. Livramo-nos do tenebroso flagelo da hidra vermelha, com a sua ideologia espúria, internacionalista, materialista e ateia, e preferimos trilhar o caminho luminoso da Liberdade, pela senda do modo de vida ocidental, cristão e democrático. Nosso país-continente, em seu inexorável destino de grandeza, não aceitou a canga de um destino mesquinho para o tamanho que possui... Que repiquem os grandes sinos de bronze! "Deus é brasileiro!"
5. Conclusões
a. A Contrarrevolução de 1964, hoje na celebração de seu Jubileu de Ouro, "ad perpetuam rei memoriam", foi uma reação inevitável do povo brasileiro contra os propósitos antidemocráticos do governo João Goulart, inquinado de forte cariz comunista. Mas, principalmente, foi uma reação de autodefesa das Forças Armadas, contra a sua manifesta destruição. Ela foi desencadeada pelo Exército Brasileiro com o decidido apoio das duas outras Forças, em vista de constantes e criminosos atentados à disciplina e à hierarquia - autênticos tótens para a classe militar, que apesar de ser única, é estratificada em vários círculos hierárquicos; e é mandatório que se afirme: esta classe, tão singular, também é una, indivisível e monolítica.
b. Sim, pois os militares podem divergir quanto a pontos de vista, questões menores, assuntos de somenos importância; porém, nunca, jamais, em tempo algum, quanto a pontos de honra, que são verdadeiras "cláusulas pétreas", questões fechadas, fundamentais, dogmáticas, não-interpretáveis e inegociáveis, eis que a unidade de pensamento é essencial para a união, para uma salutar camaradagem e, mais do que isso, para a perene coesão castrense.
c. Além dos imarcessíveis e inquebrantáveis princípios constitucionais da hierarquia e da disciplina, os consagrados e insubstituíveis cultos às gloriosas tradições, às místicas, aos mais caros e prístinos valores, a episódios épicos e memorabilíssimos de nossa rica e inapagável História Militar e a outros relevantes aspectos que conformam os fundamentos, a essência, a "alma", enfim, de uma Força Armada, não podem ser esquecidos, deturpados, manipulados ou relativizados ao sabor dos tempos e dos modismos, ao vaivém da política partidária, nem a viezes ideológicos, humores ou caprichos de transitórias autoridades ou governantes. Por mera ilustração histórica, saliente-se que os positivistas, principalmente desde a última década da Monarquia e nos albores da República, empalmando apátridas e esquipáticas doutrinas internacionalistas, símiles às do "materialismo histórico e dialético" dos comunistas, e também por força de um ideário de "fraternidade universal", pacifista e humanista, tentaram, debalde, apagar e deturpar a História-Pátria e depreciar os nossos maiores Soldados (os generais eram "os assassinos dos povos") e os feitos marciais do Império, máxime os da Guerra do Paraguai; e o pior: desejavam, como pregava, iterativamente, um de seus expoentes, líder e mentor espiritual, Teixeira Mendes - o "Papa Verde do Positivismo" -, o absurdo esfacelamento do Brasil, pela criação de "pátrias brasileiras" ou "pequenas pátrias", nada mais do que "republiquetas", com status de completa autonomia - com soberania limitada somente a poucos aspectos político-constitucionais (muito diferente do que são hoje os estados da Federação) -, em que se deveriam transformar as vinte províncias imperiais... Sim, algo deve sobrepairar acima de qualquer consideração: é a sacrossanta flama do Patriotismo!
d. Por derradeiro, lembremo-nos de que alguns preceitos são imutáveis para os Soldados na prática de seu múnus profissional - um real e missionário sacerdócio -, em que pese a atmosfera da época vivida, e deveriam ser bem compreendidos pela sociedade, pois a pátina do tempo não os esmaecerá! A propósito, os polemologistas nos ensinam três paradigmáticos conceitos: 1) que toda Força Armada, em qualquer lugar do mundo, acata, religiosamente, os princípios de autoridade, disciplina e hierarquia, usa uniformes e segue um ritual ou cerimonial específico; 2) todo militar possui indeléveis caracteres comuns: é conservador, disciplinado, muito orgulhoso da excelsitude de seus valores, autoritário e acendrado patriota e 3) as Forças Armadas, em relação às instituições civis, podem ser classificadas como pretorianas, cesaristas, militaristas, assistencialistas, profissionalistas ou as que combinam essas posturas. Tendemos, sim, para o estrito profissionalismo militar, mas possuímos nítidos, atemporais e inolvidáveis traços de algumas outras das mencionadas posturas, como a pretoriana, v.g., porquanto nós, militares, sempre estivemos e estaremos de atalaia em defesa de um Brasil livre e soberano, mormente se o país estiver "à matroca", como ocorreu em 1964. É evidente que as Forças Armadas não têm, como não tiveram, àquela época, a vocação de monges bizantinos que ficavam discutindo o sexo dos anjos, enquanto os seus inimigos atacavam Bizâncio; não iriam deixar-se abater e, com toda certeza, não se deixarão (!) como indefesos cordeiros... É como pensamos, salvo outro juízo.
" NÓS SOMOS DA PÁTRIA A GUARDA!!"
*Coronel Reformado do EB, de Infantaria e Estado-Maior, Manoel Soriano Neto, Historiador Militar e Advogado.
O autor foi integrante, como oficial do 12° RI, de Belo Horizonte (MG), do "Destacamento Tiradentes", que partiu de Minas para o Rio, em 31 de março de 1964.
Este Estudo, de cunho histórico-acadêmico, será publicado na revista "Aeronáutica", do Clube de Aeronáutica, na edição especial, histórica, alusiva ao Jubileu de Ouro da Contrarrevolução de 31 de março de 1964.
Solicito que o repassem para as suas listas.
BRASIL ACIMA DE TUDO!
"Ex toto corde", o mais amigo dos abraços do
Soriano.
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