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terça-feira, 26 de março de 2013

PAÍS SEM TECNOLOGIA É PAÍS POBRE-SEM FUTURO


O País não consegue fabricar nem matéria-prima para fazer genéricos

Pesquisadora Maíra Pitta diz que não há tecnologia nacional para fazer medicamentos em escala industrial

Presidente da Farma Brasil, Josimar Henrique diz que é importada toda a matéria-prima dos genéricos.
O setor de medicamentos passa por uma encruzilhada. O Brasil não consegue fabricar nem as matérias-primas usadas na fabricação de genéricos e os remédios descobertos por pesquisadores que têm o conhecimento verde e amarelo raramente chegam ao mercado. Somente o grupo de inovação terapêutica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) registrou mais de oito patentes de remédios diversos que podem ser usados no tratamento de dores fortes, alguns tipos de câncer, esquistossomose e diabetes. Nenhum deles está sendo produzido. O que está mais próximo de ser fabricado é o analgésico e a empresa interessada em fabricá-lo é uma companhia americana que não pode ser identificada por questões de confidencialidade. As patentes desses medicamentos foram obtidas entre 2002 e 2008. “Há um gargalo no País. Para esses remédios chegarem ao mercado, teria que ter uma participação de uma empresa e isso não está ocorrendo. As grandes indústrias farmacêuticas não têm departamento de Pesquisa & Desenvolvimento no Brasil”, explicou a professora do Departamento de Bioquímica da UFPE, Maíra Galdino da Rocha Pitta.
Resultado: cerca 85% de todos os medicamentos consumidos no Brasil são importados. No ano passado, o País pagou US$ 8,7 bilhões (cerca de R$ 17,4 bilhões) para comprar remédios e insumos farmacêuticos. Esses últimos custaram R$ 12,22 bilhões. O Brasil importa até os insumos para fazer genéricos, medicamentos cujas patentes já expiraram e, portanto, podem ser fabricados em qualquer lugar do mundo. “Sabemos fazer o medicamento, mas ainda não temos o conhecimento para escalonar, que é passar de uma escala laboratorial para uma produção industrial”, afirmou Maíra. O grupo de inovação terapêutica consegue produzir os princípios ativos dos medicamentos em gramas, mas não consegue passar para uma escala de quilos.Maíra citou como exemplo os gastos com remédios feitos em Pernambuco pelo governo federal. “No Estado, 70% desses gastos compraram 26 medicamentos ao custo de R$ 2,9 bilhões em 2011. Todos poderiam ser fabricados no Brasil porque são genéricos. Senão começarmos a fabricar esses medicamentos agora, vamos importá-los para sempre”, lamentou. A maior parte das substâncias usadas para fabricar genéricos no País chegam prontos ao Brasil. Ou seja, o comprimido é feito pela indústria nacional, mas a produção da matéria-prima ocorre principalmente na Índia e na China. “Dizem que o genérico é um programa vitorioso, mas 100% da matéria-prima vem da Índia e da China”, criticou o presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Farma Brasil) e presidente da indústria Hebron, Josimar Henrique da Silva. Ou seja, o comprimido é made in Brasil, mas a matéria-prima não se consegue fabricar no País.
Outra dificuldade para um medicamento chegar ao mercado é a pesquisa que antecede a sua produção. Ela é demorada e cara segundo empresários e pesquisadores, porque tem que passar por várias fases, obedecendo as exigências estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É necessário, em média, seis a oito anos para a pesquisa do medicamento sair da fase pré-clínica - que inclui testes in vitro e em animais - a fase clínica na qual o remédio é testado em pacientes sadios, doentes e, por último, é acompanhada a eficácia da droga.
Em novembro do ano passado, a então coordenadora do grupo de Inovação Terapêutica da UFPE, Suely Galdino, deu uma entrevista ao Jornal do Commercio aconselhando aos pesquisadores registrarem os seus inventos. “O Brasil precisa fazer patentes para proteger o seu conhecimento. Proteger a invenção com uma patente é necessário. É uma forma de fazer com que os outros não ganhem dinheiro em cima de um conhecimento produzido no Brasil”, defendeu Suely. Em dezembro do ano passado, ela faleceu subitamente, veja no vídeo abaixo a opinião de uma das maiores especialistas dessa área.
Mesmo sem parcerias com empresas, o grupo de inovação terapêutica conseguiu fazer laboratórios bem equipados usando os editais do Ministério da Ciência e Tecnologia incluindo os da Financiadora de Estudos e Projetos. Neles, foram investidos R$ 15 milhões. Agora, conseguiu um outro aliado, a Secretaria estadual de Tecnologia planeja investir R$ 6 milhões para fazer um centro de tecnologia de fármacos. “A ideia é apoiar o escalonamento dos medicamentos e depois atrair empresas para a futura fabricação em larga escala”,disse o secretário estadual de Tecnologia, Marcelino Granja. É bom não perder tempo, as estatísticas mostram que o Brasil será o 5º maior mercado consumidor de medicamentos do mundo em 2015.

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