16/03/2013
Difamador do papa supera a própria delinquência e diz que Pontífice faz parte de complô para dominar a América Latina
O jornal “Página 12”, da Argentina, se destacou pelas críticas ferinas e bem-humoradas que fazia a Carlos Menem. Horacio Verbitsky, agora alçado pelo governo argentino à condição de difamador oficial do papa Francisco, é um dos seus fundadores. Pois bem, o antes tido como independente e corrosivo “Página 12” se transformou numa espécie de diário oficial das maluquices do casal Kirchner, em especial de Cristina. A publicação apoia de maneira descarada a saga da presidente contra a imprensa do país. Nos meios políticos argentinos, dá-se como certo que Verbitsky é o seu principal inspirador. O homem é, assim, um Franklin Martins que deu certo, entenderam? O link do primeiro texto deste senhor contra o papa não está mais disponível por razão que desconheço. Lendo o texto, fica evidente que ele não tinha uma só evidência concreta contra Francisco, nada! Ao jornal italiano La Repubblica, admite isso. Acontece que o ex-terrorista montonero está “trabalhando”. Ele tem uma causa — e essa causa atende pelo nome de Cristina Kirchner.
Em novo artigo publicado no Página 12, Verbitsky volta a atacar o papa, agora em termos ainda mais baixos. Abre o artigo relatando um suposto telefonema da irmã de Orlando Yorio (um dos jesuítas presos em 1976). Ela estaria brava, indignada, lembrando que seu irmão, que já morreu, sempre afirmava que Jorge Bergoglio queria ser papa. Mais: ela também opina que o papa Francisco seria o homem certo para “tapar a podridão” da Igreja. Verbitsky vai mais longe: o papa faria parte de uma grande conspiração para dominar a América Latina.
Quem se dispuser a ler o texto na íntegra vai se deparar com uma peça pusilânime, eivada de acusações infundadas e anticatolicismo militante. Verbitisky faz pouco caso dos católicos, afirmando que, aos eventos mais inexplicáveis, a Cúria atribui a ação do Espírito Santo. O autor acusa Bento XVI de ter acobertado casos de pedofilia, o que é espantosamente mentiroso. Referindo-se à proximidade do então cardeal Bergoglio com os pobres, escreve o ex-montonero: “E nem mesmo estranharia se, com a brocha na mão e com seus sapatos gastos, Bergoglio empreendesse uma cruzada moralizadora para branquear os sepulcros apostólicos”. A expressão “sepulcros apostólicos branqueados”, no caso, é uma metáfora para a mera maquiagem dos problemas da Igreja.
Mais uma vez, sem provas, sem documentos, sem evidências, o autor recorre ao testemunho de terceiros para atacar Francisco. Um de seus interlocutores “católicos” (???), vejam lá, é ninguém menos do que Leonardo Boff. Então tá…
Delírio conspiratórioNa nova peça asquerosa vinda a público, há ao menos um aspecto positivo: Verbitsky se entrega. Não tem vergonha nenhuma — comenta-se nos meios jornalísticos argentinos que é regiamente pago pra isso! — de fazer a defesa escancarada do governo de Cristina Kirchner no mesmo artigo em que volta a atacar o papa e o catolicismo. A canalhice de Verbitsky assume proporções inigualáveis neste trecho, que traduzo (em vermelho). Leiam. Volto e seguida.
*
Sua biografia [do papa] é a de um populista conservador, como foram Pio XII e João Paulo II; inflexíveis em questões doutrinárias, mas com uma abertura para ao mundo, sobretudo para as massas despossuídas. Quando rezou sua primeira missa numa rua de Trastevere ou num terminal de Roma, falando às pessoas exploradas e prostituídas por poderosos insensíveis que fecham seu coração a Cristo; quando os jornalistas amigos contam que viaja de metrô ou ônibus; quando os fiéis ouvem suas homilias, pronunciadas com gestos de ator e em que as parábolas bíblicas coexistem com a fala lhana do povo, haverá os que vão delirar com a esperada renovação da Igreja. Nos 15 anos à frente da Arquidiocese de Buenos Aires, fez isso e muito mais. Mas, ao mesmo tempo, tentou unificar a oposição ao primeiro governo que, em muitos anos, adotou uma política favorável a esses setores, acusando-o de promover o conflito e o confronto justamente com aqueles setores que ele [o papa] acusava em seu discurso.
Sua biografia [do papa] é a de um populista conservador, como foram Pio XII e João Paulo II; inflexíveis em questões doutrinárias, mas com uma abertura para ao mundo, sobretudo para as massas despossuídas. Quando rezou sua primeira missa numa rua de Trastevere ou num terminal de Roma, falando às pessoas exploradas e prostituídas por poderosos insensíveis que fecham seu coração a Cristo; quando os jornalistas amigos contam que viaja de metrô ou ônibus; quando os fiéis ouvem suas homilias, pronunciadas com gestos de ator e em que as parábolas bíblicas coexistem com a fala lhana do povo, haverá os que vão delirar com a esperada renovação da Igreja. Nos 15 anos à frente da Arquidiocese de Buenos Aires, fez isso e muito mais. Mas, ao mesmo tempo, tentou unificar a oposição ao primeiro governo que, em muitos anos, adotou uma política favorável a esses setores, acusando-o de promover o conflito e o confronto justamente com aqueles setores que ele [o papa] acusava em seu discurso.
Agora poderá fazê-lo em outra escala, o que não quer dizer que ele vá se esquecer da Argentina. Se Pacelli [o papa Pio XII] recebeu financiamento da CIA para fortalecer a democracia-cristã [italiana] e impedir a vitória dos comunistas na primeira eleição pós-guerra e se Woytila [João Pulo II] foi um aríete que abriu o primeiro rombo no muro [regimes comunistas] europeu, o papa argentino poderá desempenhar o mesmo papel em escala latino-americana. Sua passada militância na Guarda de Ferro [juventude peronista de direita], o discurso populista que permanece — e, com ele, poderia até mesmo adotar causas históricas, como a das Malvinas — o habilitam a disputar a liderança desse processo, afrontando com palavras os exploradores e pregando mansidão aos explorados.
VolteiNo trecho acima, fica evidente que Verbitsky está empenhado em defender o governo de Cristina Kirchner, o primeiro que teria se preocupado com os pobres. Acusa o agora papa de ter tentado unificar a oposição contra essa grande líder… É uma mentira estúpida! Mas isso ainda é o de menos.
Verbitsky incita os tolos a acreditar na mais recente teoria conspiratória: a de que Francisco faria parte de um grande complô para dominar a América Latina. Sei… Dominar contra quem e a favor de quem? Ele responde: a função do papa seria acalmar os pobres e, quem sabe?, indispô-los com líderes da qualidade de Cristina Kirchner, Rafael Correa ou Nicolás Maduro…
O jornalista demonstra ser também um homem sem nenhuma vergonha do ridículo. Dá curso a outras fantasias, como a história de que a CIA financiou Pio XII para que este garantisse recursos à democracia cristã italiana (por que a CIA precisaria do papa pra isso?) e a de que João Paulo II fazia parte de um complô para pôr fim ao comunismo…
É impressionante que tal grau de estupidez acabe influenciando o noticiário internacional. Por quê? De onde vem a credibilidade de Verbitsky? Ora, do fato de ter sido um terrorista e de ser um militante de esquerda, que conta com uma impressionante rede de difamação mundo afora. Não! Essa rede não obedece necessariamente a um comando de conspiradores. A maioria dos que veiculam essas porcarias é formada por idiotas, por inocentes úteis.
As teorias conspiratórias só prosperam porque rematados cretinos se querem superiormente inteligentes para detectar agentes secretos em ação. Quanto mais atrasado e miserável é o país, maior é o número de teorias conspiratórias influentes. Vejam Evo Morales: conseguiu convencer a maioria do povo boliviano de que capitalistas cúpidos sonham em dominar a Bolívia… Naquele país, o Brasil é visto como um satã imperialista…
Texto originalmente publicado às 20h11 desta sexta
Fonte:http://veja.abril.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário