Vergonha alheia – Mercadante agora anuncia pente-fino em redação nota mil. É um troço escandaloso!
Já escrevi aqui sobre o acerto do sujeito que formulou pela primeira vez a expressão “vergonha alheia”. Ela serve não apenas para designar o constrangimento vicário, aquele que a gente sente em lugar do outro, mas também para designar o nosso desconforto diante do patético, ainda que o protagonista do ato vexatório não se dê conta. Sabem aquele comercial idiota na televisão que o leva a descrer na humanidade? Ou, então, o piadista sem ritmo, que perde o tempo da narrativa? Pois é…
Mercadante, não há como, desperta em mim, permanentemente, a sensação da vergonha alheia. Eu o peguei no pulo em 2006, anunciando no horário eleitoral um doutorado que não tinha — só faltava a tese… A dita cuja saiu em 2010: um texto-miojo sobre o governo Lula, desmoralizado por aqueles que ele mesmo convidara para a banca.
Pois bem… Vimos o que acontece com as correções das redações do Enem. O MEC, para nossa estupefação, encontrou supostas explicações teóricas tanto para a redação do miojo como para a do Palmeiras. Mas tomou uma decisão: inserções dessa natureza, doravante, levarão à desclassificação da prova. Ulalá! Convém os estudantes nunca mais recorrerem nem mesmo a uma citação. Dada a forma como se seleciona a mão de obra…
Agora, o ministro vem a público para anunciar que redações que obtiverem pontuação máxima vão passar por um “pente-fino”, como se o mal estivesse aí. Não está! O que não se pode é conferir mil pontos — 100% de proficiência — a quem escreve “enchergar”, “trousse” e “rasoavel”.
O ministro está confessando, na prática, que tudo é feito mesmo à matroca. É a desmoralização do exame. Uma nota mil é tão exemplar de uma nota mil como uma nota 560 é exemplar de uma nota 560. Será que precisarei desenhar isso a Mercadante? A questão é saber como os critérios estão sendo empregados para conferir uma pontuação ou outra e com que rigor as provas estão sendo corrigidas, Santo Deus!
Há mais: por uma razão de lógica elementar, certamente há mais injustiçados entre os alunos que tiram abaixo de mil do que entre os que alcançam o topo. Medidas como as anunciadas são a confissão de um desastre e não resolvem nada! Só dão conta do amadorismo, do improviso e da irresponsabilidade dos condutores desse sistema.
Fonte:http://veja.abril.com.br/
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