Em desaceleração, Brics tem como legado comércio Brasil-China
Bruna Saniele
São Paulo - A ampliação do comércio entre Brasil e China, que nos últimos anos superou a relação tradicional do País com os Estados Unidos é o principal legado do Bric, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo o professor de economia do Ibmec Mauro Rochelin, a corrente comercial entre o Brasil e o país asiático cresceu exponencialmente desde a primeira vez que a sigla foi mencionada por Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs, em 2000, que colocou os países em um mesmo grupo devido às altas taxas de crescimento econômico.
De acordo com dados do Ministério da Fazenda, a China hoje é o principal parceiro comercial do País, responsável por 17% do comércio, com US$ 77 bilhões. No mês de junho os dois países assinaram diversos acordos comerciais e anunciaram que vão criar um fundo de troca de moedas locais (swap) na ordem de R$ 60 bilhões. Conforme o ministro, a relação entre os países vai continuar se expandindo.
Para o professor do Ibmec, enquanto as relações entre Brasil e China foram ampliadas nos últimos 12 anos, a relação comercial brasileira com outros membros do Bric permaneceu praticamente inalterada. "Não ocorreram mudanças expressivas nem nas relações com a Rússia, nem na relação com a Índia, mas a China ocupou o espaço dos Estados Unidos como um grande parceiro comercial", completa.
Desaceleração
O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 8,1% no primeiro trimestre de 2012, em relação ao mesmo período do ano passado - a taxa mais baixa desde meados de 2010. O governo chinês um avanço de 7,5% neste ano, depois de crescimento de 9,2% em 2011. No Brasil, desde o início do ano o ministro da Fazenda reduziu a taxa de crescimento do PIB em 2012 de 4,5% para 2,5%.
"Apesar dessa queda nas taxas, apenas o Brasil apresentou um crescimento decepcionante enquanto a Índia e a China ainda apresentam um PIB muito alto, em especial quando comparados aos países em crise. É prematuro falar no fim do Brics nesse cenário", diz Mauro Rochelin, professor de economia do Ibmec.
No entanto, com medo da estagnação, investidores são os primeiros a mudar o foco dos chamados emergentes. De acordo com dados do Financial Times, japoneses retiraram cerca de US$ 30 bilhões em investimentos do Brasil em menos de um ano. Já a Bloomberg, cita como outros fatores de fuga dos Brics a queda nos preços das exportações russas de petróleo, o déficit de orçamento e a desvalorização da rúpida na Índia, e a desvalorização dos imóveis na China.
Para Paulo Roberto de Almeida, diplomata e doutor em sociologia, dentre os cinco países, apenas China e Índia vinham crescendo de maneira consistente nos últimos anos e também já vêm enfrentando uma baixa de ritmo como consequência da crise das economias americana e europeia.
Segundo Almeida, o Bric ainda nem mesmo se consolidou como um grupo econômico. Para que isso ocorresse seria necessário que os países passassem por um processo de integração comercial e de intensificação do intercâmbio. "Para esperar algo desse grupo seria preciso que ele tivesse um poder de alavancagem sobre a economia mundial que ele ainda não tem. E seria preciso que ele oferecesse respostas a problemas comuns que não foram vistas ainda", completa.
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