13/02/2014
às 9:55 \ CulturaO imbecil antissocial de Marcelo Rubens Paiva
Marcelo Rubens Paiva escreveu, em seu blog no Estadão, um curto texto retratando o jovem oco, vazio, imbecil e antissocial que acaba cometendo crimes, tirando vidas inocentes.
A foto usada para ilustrar seu texto foi tirada do filme “Laranja Mecânica”, um ótimo retrato de uma juventude sem limites, niilista, hedonista, irresponsável.
O texto ia muito bem, até um escorregão fatal na última frase, que colocou tudo a perder. Segue um trecho com o desfecho lamentável:
Me deram o rojão, ele disparou
O jornalista estava no meio do caminho
Sou inocente
Foi um acidente
Fui manipulado por aliciadores profissionais
Infelizmente disparou, foi sem querer
Fui municiado
Me aliciaram
Eu não tenho consciência, dever moral
Eu não sou um cidadão, sou um corpo vazio que não pensa, não reflete, não sabe o que é certo ou errado, não sabe que com um rojão, carro, revólver ou sinalizador posso matar
Não sei nada
Sou inocente
Foi acidente
Perdão à família da vítima
Sou vítima
Sou o imbecil antissocial
Sou oco
Vocês me criaram
Vocês, quem? Se o autor se refere aos pais do típico jovem oco e imbecil, vá lá, pode-se dizer que faz algum sentido, que tem sua dose de razão. Afinal, apesar de não acreditar em determinismo educacional ou na onipotência paterna, sabemos como pais podem ter influência – para o bem ou para o mal – na criação dos filhos.
Pais que nunca impuseram limites, que não souberam dizer “não” ou mesmo dar umas palmadas de vez em quando (ó, o pecado para o mundo politicamente correto e frouxo de hoje!), colaboram na formação de jovens delinquentes, mimados, egocêntricos que juram que seus desejos são lei e não aceitam que nada fique entre seu impulso e seu ato.
Mas acho pouco provável que o autor estivesse se referindo aos próprios pais. O mais provável é que falasse de “vocês” em sentido amplo, abstrato, a “sociedade”. E é aqui que mora o perigo! É aqui que a esquerda costuma cair na tentação de eximir de responsabilidade o indivíduo.
Não! Essa mentalidade, predominante por tempo demais, ajudou a criar verdadeiros monstrinhos, justamente porque nunca culpamos o próprio imbecil antissocial por suas ações imbecis e antissociais. A impunidade é o efeito colateral deste pensamento.
Por mais que o meio tenha influência, por mais que os próprios pais exerçam forte influência, no fim do dia precisamos apostar no livre-arbítrio, no poder de escolha. Caso contrário, como enaltecer um menino de origem pobre e até lar disfuncional que rala para ser alguém decente na vida? Como separar o joio do trigo? Como reconhecer o mérito daquele que faz diferente, que se recusa a ser apenas mais um imbecil antissocial?
Viktor Frankl, um psiquiatra judeu preso num campo de concentração nazista, mesmo sob tais condições desumanas, constatou: “Entre o estímulo e a resposta, o homem tem a liberdade de escolha”. Ou acreditamos nisso, ou tanto faz ser um imbecil antissocial assassino ou um estudioso jovem civilizado. Será sempre o resultado de “vocês”, nunca deles mesmos.
* Leitores apontam para a possibilidade de o texto ter sido irônico na íntegra, do começo ao fim, o que colocaria a última frase apenas como o ápice do sarcasmo. Pode ser. Mas vindo de quem vem, e conhecendo o pensamento de esquerda típico, arrisco dizer que o autor realmente acha que a culpa é da “sociedade”, que cria gente assim, como os tais imbecis antissociais. Fica a dúvida…
Rodrigo Constantino
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