4 outubro, 2012
ITV: se for condenado pelo Supremo, José Dirceu terá uma vasta ficha corrida para exibir
O primeiro e decisivo passo para condenar José Dirceu e a antiga
cúpula petista pelos crimes do mensalão foi dado ontem, com o voto de
Joaquim Barbosa. Como lembra o Instituto Teotonio Vilela, a partir da
Casa Civil do governo de Lula foi montada uma máquina para corromper
parlamentares que se sujeitassem a sustentar o projeto de poder do PT.
“O ministro-chefe a comandava. Condenado, poderá exibir uma ficha
corrida e tanto: ex-ministro, deputado cassado, presidiário e
quadrilheiro”, diz trecho da Carta de Formulação e Mobilização Política
desta quinta-feira (04). Leia abaixo a íntegra:
O primeiro e decisivo passo para condenar José Dirceu e a antiga
cúpula petista pelos crimes do mensalão foi dado ontem, com o voto do
ministro Joaquim Barbosa. A pá de cal deve ser jogada nesta quinta-feira
quando se espera que – se nenhum ministro não interpuser delongas
injustificáveis – a mais alta corte do país considerará aqueles que, até
pouco tempo atrás, comandavam o PT culpados por desviar dinheiro
público para comprar apoio político no Congresso.
Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, além de outros sete réus,
foram condenados ontem por corrupção ativa pelo ministro relator. A
partir da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi
montada uma máquina para corromper parlamentares que se sujeitassem a
sustentar o projeto de poder do PT. O ministro-chefe a comandava.
Barbosa empilhou um monte de evidências para mostrar que José Dirceu
detinha o “domínio final de todos os fatos” do mensalão. Nada acontecia
sem a sua anuência, de tratativas de liquidação de bancos à exploração
do raríssimo nióbio. Marcos Valério era seu operador – “broker”, ou
corretor e negociador, na definição do ministro relator.
De fato, é difícil admitir que Dirceu participasse de tantas e tão
díspares reuniões, com tão distintos interlocutores, sem que fosse para
tratar da montagem e da atuação da quadrilha que concebeu, estruturou e
operacionalizou o maior esquema de corrupção que se tem notícia na
história política do Brasil.
Mais: como explicar que, para tratar de mineração ou de sistema
financeiro, estivessem sempre sentados à mesa de reuniões com Dirceu o
tesoureiro do seu partido (Delúbio Soares) e um publicitário cujo maior
dom era montar esquemas de desvio de dinheiro público para molhar a mão
de parlamentares (Marcos Valério)?
Mais ainda: como explicar que, logo depois de realizadas tais
reuniões, uma gorda dinheirama tenha saltado das burras do Banco Rural
para os cofres do PT, de onde escorreu para o bolso dos mensaleiros?
Terão sido meras coincidências? Barbosa deixou claro que não: era o
mensalão mesmo em plena ação.
A defesa de Dirceu argumenta que uma das reuniões com o pessoal do
Rural serviu para tratar da exploração de nióbio. Estranhíssimo.
Primeiro, porque, até onde se sabe, não é atribuição da Casa Civil
cuidar de pesquisa mineral. Segundo, porque o Brasil tem um único
produtor do metal – aliás, um dos únicos no mundo: a CBMM, que pertence,
justamente, a um grupo concorrente do banco mineiro, o Moreira Salles,
então à frente do Unibanco, hoje do Itaú-Unibanco. O que, diabos, o
Rural iria querer com nióbio? Nada, provavelmente; o papo era outro.
Os interlocutores de Dirceu eram gente que não tinha nada a ver com
assuntos de governo ou com os temas alegados pela defesa do “chefe da
quadrilha”, mas tudo a ver com o mensalão, como ressalta Marcelo Coelho
em precisa análise sobre o voto de Barbosa ontem no Supremo, publicada
na Folha de S.Paulo.
Era uma profusão de “reuniões fechadas, jantares, encontros
secretos”, com Dirceu “em posição central, posição de organização e
liderança da prática criminosa, como mandante das promessas de
pagamentos de vantagens indevidas aos parlamentares que viessem a apoiar
as votações do seu interesse”, conforme resumiu, com a acuidade de
sempre, Joaquim Barbosa em seu voto.
São evidências de sobra para que José Dirceu passe uns bons tempos no
xadrez. Se condenado a mais de oito anos pelos ministros do STF,
amargará cumprimento da pena em regime fechado. Um ocaso e tanto para
quem foi o segundo homem mais poderoso da República e sonhava tornar-se o
maioral. Dirceu terá uma ficha corrida e tanto a exibir: ex-ministro,
deputado cassado, presidiário e quadrilheiro.
Hoje, O Estado de S.Paulo diz
que o PT prepara manifestações de desagravo para seus próceres
condenados pelo Supremo. A turba petista costuma saldar gente como o
ex-ministro com urros e palavras de ordem do tipo “Dirceu, guerreiro do
povo brasileiro”. No encontro que terão após a conclusão do julgamento
do mensalão pelo STF, poderá inaugurar um novo brado retumbante:
“Dirceu, quadrilheiro do povo mensaleiro”.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
(Fonte: ITV/ Foto: José Cruz – Agência Brasil)
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