06/10/2012 às 17:40
A VEJA
desta semana traz na capa a imagem de um menino negro, de olhar severo e
altivo. É Joaquim Barbosa, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal,
aos 14 anos. Num país acostumado à impunidade, ao “isso não vai dar em
nada”, ele se tornou uma justa referência. Segue trecho da reportagem de
Hugo Marques e Laura Diniz. Lula estava certo: um ex-garoto pobre viria
a simbolizar a esperança, e falta muito para que cheguemos lá, do fim
da impunidade no Brasil. A mãe de Joaquim Barbosa, leitor amigo, a
exemplo da sua e da minha, também “nasceu analfabeta”. Acabou dando à
luz um futuro ministro do Supremo, obcecado pela leitura e pelo estudo,
não um Messias de araque…
*
O menino Joaquim Barbosa nunca se acomodou àquilo que o destino parecia lhe reservar. Filho de um pedreiro, cresceu ouvindo dos adultos que nas festas de aniversário de famílias mais abastadas deveria ficar sempre no fundo do salão. Só comia doces se alguém lhe oferecesse. Na última quarta-feira, o ministro Joaquim Barbosa, 58 anos, apresentou seu voto sobre um dos mais marcantes capítulos do julgamento do mensalão — o “last act (bribery)”, “último ato (suborno)”, como ele anotou em inglês no envelope pardo que guardava o texto de sua decisão. Além do português, Barbosa domina quatro idiomas — inglês, alemão, italiano e francês. Pouco antes da sessão, o ministro fez uma última revisão no texto. Cortou algumas citações, acrescentou outras e destacou trechos. Não alterou em nada a essência da sua convicção, cristalizada depois de sete anos como relator do processo.
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O menino Joaquim Barbosa nunca se acomodou àquilo que o destino parecia lhe reservar. Filho de um pedreiro, cresceu ouvindo dos adultos que nas festas de aniversário de famílias mais abastadas deveria ficar sempre no fundo do salão. Só comia doces se alguém lhe oferecesse. Na última quarta-feira, o ministro Joaquim Barbosa, 58 anos, apresentou seu voto sobre um dos mais marcantes capítulos do julgamento do mensalão — o “last act (bribery)”, “último ato (suborno)”, como ele anotou em inglês no envelope pardo que guardava o texto de sua decisão. Além do português, Barbosa domina quatro idiomas — inglês, alemão, italiano e francês. Pouco antes da sessão, o ministro fez uma última revisão no texto. Cortou algumas citações, acrescentou outras e destacou trechos. Não alterou em nada a essência da sua convicção, cristalizada depois de sete anos como relator do processo.
Durante
mais de três horas, Barbosa demoliu a defesa e as esperanças dos
petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, mostrando como eles
usaram dinheiro desviado dos cofres públicos para subornar
parlamentares e comprar o apoio de partidos políticos ao governo Lula.
Exaurido pela dor nas costas que o martiriza há anos, o ministro
anunciou seu “last act” no mesmo tom monocórdio com que discorreu sobre
as provas: condenou por crime de corrupção ativa Dirceu, Genoino e
Delúbio, que formavam a cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT). Dois
ministros acompanharam o relator e um aceitou em parte as teses da
defesa. A votação continua nesta semana, quando os seis ministros
restantes vão revelar suas decisões, mas o Supremo Tribunal Federal, o
STF, já consolidou perante os brasileiros o conceito — sem o qual uma
nação não se sustenta — de que a Justiça funciona também para os ricos e
poderosos.
Leia a íntegra na revista
Tags: Joaquim Barbosa, Mensalão
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