Visão da Semana - Teórica
Visão semanal da Teórica Investimentos, que agora estará disponibilizada no meu blog toda semana.
Visão da Semana (de 8 de abril a 15 de abril).
O pano de fundo do cenário de investimento global segue de desalavancagem dos excessos cometidos nas ultimas décadas. Algumas regiões/governos estão fazendo o dever de casa e arrumando a casa para, assim, poder entrar num novo período do ciclo de crescimento sustentado de longo prazo. Essa arrumação passa por reformas internas, que, com frequência, geram descontentamento e desaceleração econômica de curto prazo. Outros governos, no entanto, preferem parcelar os ajustes para não pagar a conta sozinho dos custos de curto prazo. Porém, suas economias tendem a atravessar período muito mais longo tendo que digerir os excessos e, por isso, demoram a estar aptas para entrar num novo ciclo de crescimento sustentado. Resumindo, existe um caminho, aparentemente mais penoso no curto prazo, onde o ajuste é feito e a economia passa por uma desaceleração rápida, mas no longo prazo o organismo econômico resurge mais capacitado e revigorado para um novo ciclo de crescimento num novo ambiente socioeconômico. No outro caminho, o ajuste é dividido por algumas gerações e vários governos, assim a economia não paga os custos pelos excessos todos de uma só vez, não atravessando, assim, uma rápida desaceleração. O ajuste é parcelado, com o custo de um crescimento baixo e inflação mais alta por um longo período.
Atualmente temos três blocos distintos dentro da economia mundial executando receituários de ajustes diferentes. Estados Unidos foi pelo caminho de fazer o ajuste parcelado, deixando parte da dívida para as próximas gerações. A Europa, liderado nessa escolha pela Alemanha, preferiu pagar à vista, arcando com o pesado custo político das reformas, com desemprego elevado e recessão. E a China, aparentemente, vai pelo meio do caminho, fazendo algumas das reformas necessárias, mas não todas, passando por alguma desaceleração econômica no curto prazo.
Indo para os dados recentes, na China, o PIB do 1º trimestre desacelerou de 7.8% ano/ano para 7.7%, abaixo do esperado pelo mercado de 8.0% ano/ano. O crescimento da produção industrial de março foi de 8.9% ano/ano, também abaixo das expectativas de 10% ano/ano. Por outro lado, as vendas no varejo ficaram dentro das expectativas em 12.4% ano/ano. A série de dados confirma um quadro de desaceleração da economia chinesa, porém com um qualitativo de crescimento mais saudável. De alguma maneira, o ajuste está sendo feito e o perfil de crescimento está sendo mais equilibrado, com maior peso do consumo doméstico e menor de investimento. Nos Estado Unidos, os dados econômicos também decepcionaram, com vendas no varejo e confiança do consumidor abaixo do esperado.
No mercado doméstico, mais uma semana de péssima coordenação das expectativas e de decisões de qualidade questionável da área econômica. Temos a visão que o governo e o Banco Central estão atrapalhando e criando dificuldades para o bom funcionamento da economia brasileira. Os fundamentos já não são mais tão sólidos quanto foram no passado, mas acreditamos que, de alguma maneira, a economia brasileira poderia estar melhor se o BC e o governo não atrapalhassem tanto. Tais instituições precisam voltar o foco da atuação para o fortalecimento do ambiente de investimento de longo prazo e parar de visar somente resultados de curto prazo. O momento global de taxas de juros baixas deveria estar sendo aproveitado de maneira muito mais forte, atraindo investimentos de longo prazo e capital para o mercado acionário.
Seguimos acreditando que o ativismo excessivo dos governos e bancos centrais atrapalham o processo natural de cicatrização e de desenvolvimento das economias. O papel dos bancos centrais injetando liquidez tem um beneficio de evitar um congelamento do sistema ou a ruína rápida de um banco, mas não tem a capacidade de criar crescimento econômico. Tanto a economia brasileira quanto a mundial seguem processo de ajustes. No caso brasileiro, uma menor atuação traria benefícios imediatos. Na economia global, uma gradual retirada dos estímulos e ajustes fiscais com atento acompanhamento das autoridades também seria positivo no longo prazo.
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