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terça-feira, 30 de abril de 2013

ANÁLISE REALISTA E O BRASIL CORRENDO RISCO...


Tuesday, April 30, 2013

O brioche estragado

Carta Mensal da MP Advisors


"Se me perguntarem qual a fatalidade de nossa época, responderia que são as esquerdas.”

Nelson Rodrigues

Após a derrocada da URSS, Coréia do Norte, Leste Europeu e Cuba, alguns ainda persistem no erro.  O ser humano continua apostando num modelo que deu errado, a despeito de Darwin. Nesta carta, beberemos um pouco das águas da consultoria Gavekal para falar sobre o momento atual da França, que parece rumar para uma segunda recessão pós-crise de 2008. Faremos também um paralelo dos problemas do modelo econômico francês com o modelo para o qual o governo brasileiro caminha a cada dia que passa.

Vamos ser claros: a França de François Hollande está no meio de uma paralisia política, moral e econômica.  O desemprego alcança novas máximas, a confiança no governo entre os empresários se deteriora, a produção industrial afunda, bem como o consumo privado, que já cai para os patamares de pós-crise 2008.

O desenho rígido do sistema do euro indica que países como a França irão experimentar um brutal ajuste cíclico como nos tempos do padrão ouro (onde não se podia imprimir ou desvalorizar a moeda). Os compatriotas de Asterix chegaram longe no experimento coletivista de bem estar social e agora rumam impávidos para o abismo.

As crises daquela época (padrão ouro) seguiam um padrão bem estabelecido: começavam com investidores animados com os bons retornos aumentando cada vez mais as suas apostas, bancos afrouxando os seus padrões de crédito, dificuldade de distinguir os reais empreendedores dos charlatões e analistas comentando que 'desta vez é diferente'. Isso ocorreu entre 1995 e 2007.

Depois vinha o pânico, com alguns investidores realizando que o retorno esperado não era mais aquele e vendendo suas posições, causando medo e movimentos súbitos no mercado Fase de algumas falências.  Isso foi o que houve no biênio 2007-2008.



Na sequência, a fase de alívio com taxas de juros baixas, ajudas do governo e preços dos ativos retornando ao que eram antes da crise anterior. Então, as pessoas, erroneamente, concluem que a vida voltou ao normal. Isso foi vivido entre 2008 e 2012.

A fase que vem a seguir, em especial na França, é de depressão secundária, quando os investidores realizam que afinal o retorno dos investimentos continua bem baixo e, portanto vendem seus ativos.  Os estudiosos da época do padrão ouro falam que essa fase pode durar entre três e cinco anos.  A desvalorização da moeda, a única saída viável, está fora de cogitação pela estrutura do euro. 

Mas se o problema é de desenho do euro, porque afinal a França é que vai primeiro para o abismo?  Boa pergunta e começamos respondendo com o adágio popular (para os europeus) de que "muitas casas na Espanha, muitas fábricas na Alemanha e muitos funcionários públicos na França". O gasto público na terra de Amélie Poulain representa 57% do PIB.  Você não leu errado, é isso mesmo! Quase 2/3 do PIB vem do setor público.

É muita gente sendo sustentada por poucos. Como se sabe, o 'estado' não cria riqueza e nada produz, ele apenas redistribui (com extrema corrupção e ineficiência) uma parte de quem produz para aqueles que não produzem (por incapacidade, doença ou por preguiça mesmo). Na França, há uma relação de dois 'malandros' sendo sustentados por um 'trabalhador'. Não tem como dar certo, não é verdade?

O ciclo vicioso funciona assim: uma 'elite' captura o estado e cresce cada vez mais. Para sustentar a farra, novos impostos são criados, reduzindo a capacidade de investimento dos empreendedores, que, por sua vez, têm lucros menores e naturalmente pagam menos impostos.  Com a arrecadação em queda o que fazem os 'saqueadores' que tomaram conta do estado?  Aumentam mais os impostos e contraem mais dívida (pública) para financiar o rombo.

Chega ao ponto em que até o mais pacífico dos servos protesta, como foi o caso de Gérard Depardieu que recentemente se naturalizou russo para não ter que pagar 75% de imposto de renda.  E veja que ele foi duramente criticado por não ser 'patriota' e 'fraterno'.  Trata-se do parasita se revoltando contra o hospedeiro que resolve tomar um vermífugo. No gráfico anexo, a lenta agonia do empreendedor na França.

O irônico desse desenho político, é que na medida em que você aumenta o número de 'beneficiados', mais fácil fica de se perpetuar no poder através do voto da maioria.  Funcionários públicos, bolsistas, cotistas e alguns empresários que gostam da letra 'X', naturalmente tendem a perpetuar o sistema que lhes permite ganhar a vida sem muito esforço.  Por hora, o que há é um sistema onde o setor público saqueia continuamente o setor privado.  Esse assalto institucionalizado naturalmente cria um ciclo de queda econômica sem fim. O resultado disso será o sucateamento da indústria, fuga de cérebros para o exterior, recessão, inflação e desemprego nas alturas.

Esse avanço do estado francês sobre os empreendedores ocorre tanto em governos de 'esquerda' quanto de 'direita'.  Sarkozy, a despeito de ter um senso estético melhor do que o de Hollande, na prática tocou a mesma música. O problema é cultural, ou indo mais fundo: trata-se da falência moral de uma sociedade. As elites francesas de fato acreditam que a tecnocracia comunista é melhor do que o capitalismo, e essa crença é aceita por grande parte da população.  A música vai tocar até que o financiador dessa dívida continue aceitando isso e também até que o último empreendedor francês arrume as suas malas para Palo Alto, Nova York ou Cingapura. Um dia a farra termina.

E o que isso tem a ver com o Brasil?  Acho que não precisa ter muita imaginação para traçarmos um paralelo com os charmosos franceses.  Temos muito do que eles tem.  Um 'estado' voraz e saqueador do setor privado, baixo crescimento, inflação, uma cultura 'esquerdizante', uma dívida pública que só cresce, uma indústria decadente, muitos 'direitos', poucos 'deveres' e uma demografia que daqui para frente teremos cada vez mais menos gente trabalhando e mais gente aposentada.  Além disso, ainda temos corrupção endêmica e um nível educacional péssimo. 

De positivo o Brasil tem uma capacidade (espero, ainda) de corrigir suas rotas e seus descaminhos.  Caso não mudemos o nosso passo, seguiremos para o abismo, só quem sem a educação, charme, vinho e o TGV dos franceses.


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