"Protejam a rainha"
Nas Entrelinhas
Denise Rothenburg
Correio Braziliense - 17/09/2012
Se alguém, em 2014, conseguir encantar o eleitor, como Celso Russomanno faz hoje em São Paulo, o PT correrá o risco de um xeque-mate. Daí, todo o cuidado em manter Dilma longe das batalhas campais
Ao longo da história, cavaleiros geralmente protegeram suas rainhas. As abelhas e as formigas também.
No xadrez, a peça é considerada uma das mais valorosas, porque, ao lado do rei, pode definir uma partida. No jogo, é representada pela letra "D". Obviamente, não tem nada a ver com a presidente Dilma Rousseff. Mas, dentro do PT, há quem recorra ao xadrez para pedir proteção à imagem da presidente, de forma a não deixar Dilma exposta às intempéries eleitorais e às notícias nada boas para o partido oriundas do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Houve uma grande pressão para que ela participasse de comícios no último fim de semana. Era a grande janela da agenda esse mês. Mas Dilma optou por ficar ao lado da família, uma vez que o ex-marido Carlos Araújo recentemente saiu do hospital e havia ainda o aniversário do neto. Ontem, ela só deixou o Rio Grande do Sul por algumas horas. Foi à pequena Aguaí, no interior de São Paulo, para o enterro de uma de suas tias, Diva, falecida aos 87 anos.
No Planalto, ninguém tem notícia sobre a participação de Dilma em comícios eleitorais do PT esta semana, embora haja dezenas de pedidos. Se ela for, será em cima da hora e depois do expediente (com deslocamentos pagos pelo partido, uma vez que Dilma não quer aproveitar viagens de trabalho para "emendar" com um compromissos de campanha).
Até o fim de setembro, Dilma estará mais dedicada aos compromissos externos do que às campanhas. No próximo domingo, desembarca em Nova York para abertura da Assembleia Geral da ONU e uma série de encontros bilaterais. Antes disso, recebe em Brasília o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto. Depois da viagem, tem a visita do primeiro-ministro inglês, David Cameron, e, em seguida, o presidente do Egito, Mohamed Morsi. Na última semana de campanha, a presidente tem ainda o encontro da cúpula América do Sul-Países árabes (Aspa), em Lima, no Peru. Assim, sobrará pouco tempo para dar o ar da graça em palanques neste primeiro turno.
Bispos, torres, cavalos
A coincidência dessa agenda da presidente Dilma Rousseff com o julgamento do mensalão é algo que nem o gênio do marketing faria melhor. Nesse período em que a presidente estará dedicada à política externa, os políticos estarão sob os holofotes no STF.
Para os petistas, que esperam ter alguém com boas chances eleitorais totalmente longe da imagem do mensalão, não tem escudo melhor do que uma agenda internacional para deixar Dilma anos-luz do julgamento em que os réus são aqueles que, no passado recente, faziam o papel de bispos, torres e cavalos dentro do comando partidário, acompanhados ainda de alguns peões.
A avaliação interna é a de daqui para frente acabou o recreio, ou seja, a eleição vai virar um mar de ataques e o julgamento vai ferver, talvez nem tanto pelos votos dos ministros, mas por conta do imponderável — o desespero de alguns réus e o que pode surgir, por exemplo, se o publicitário Marcos Valério, condenado por corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro, desvendar alguns mistérios. Nesse fim de semana, já se teve notícia de que ele anda meio cansado de ter ficado com a pecha de bandido enquanto muitos continuam por aí. A revista Veja trouxe reportagem em que Valério inclui Lula nessa história, embora o ex-presidente não figure como réu no processo.
O rei
Diante disso, vale lembrar também que, em política, seguro morreu de velho e o pragmatismo às vezes impera. Portanto, se o julgamento do mensalão colocar Lula em xeque, ou lhe oferecer o menor risco de chegar a essa hipótese, pelo sim, pelo não, o PT quer estar preparado para agir. Daí, a ideia de deixar Dilma longe de tudo, inclusive das campanhas, para, se for o caso, ajudar a proteger o rei e o partido. Afinal, todos sabem que 2014 não será fácil como foi 2010, uma vez que os possíveis adversários, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), nunca concorreram a uma eleição presidencial e soam aí como uma "novidade". Se um dos dois conseguir encantar o eleitor como Celso Russomanno encanta São Paulo, o partido de Lula e Dilma corre o risco e sofrer um xeque-mate. E esse é, para os petistas, um pesadelo pior do que julgamento do mensalão.
Fonte:http://www.averdadesufocada.com/
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