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quinta-feira, 3 de maio de 2012

O “não” a Sarkozy no primeiro turno vai tornar o 6 de maio um round sem fervor, mas inevitável para Hollande.


03 | 05 | 2012
À espera do terceiro escrutínio
Por: Guy Sorman


O primeiro turno da eleição presidencial francesa foi um referendo contra Nicolas Sarkozy. Pode-se considerar raro que um presidente que não tenha cometido um erro político grave ou imperdoável não atinja um terço dos votos, principalmente quando não tenha concorrido contra ele nenhum candidato da direita moderada. Seus partidários imediatamente atribuíram à crise econômica a principal razão para essa falha. Certamente, em toda a Europa Ocidental, fora a Polônia, todos os candidatos que saíram depois de 2008 foram derrubados e substituídos pelo partido oposto, mas nenhum sofreu tamanha afronta. Essa é, pois, a pessoa, o estilo Sarkozy que foi repudiado pela imensa maioria dos eleitores franceses. Sarkozy é, sem dúvida, uma vítima dele mesmo: brilhantemente eleito há cinco anos como o defensor de reformas mais liberais que jamais foram oferecidas para o francês, no entanto, ele nunca aplicou o programa (nós pensamos na reforma de 35 horas sempre presente e na inflexibilidade do mercado de trabalho), o que irritou os liberais e os antiliberais desde que as reformas não foram concluídas – o medo delas, contudo, permaneceu. Não fazer o que se foi eleito para fazer é uma promessa de derrota eleitoral.

Essa rejeição a Sarkozy beneficia aqueles que são, tradicionalmente, os mais radicalmente hostis: comunistas, trotskystas, anticapitalistas, que reencenam o melodrama da revolução de 1789, assim como os reacionários da Frente Nacional com a retórica da anti-imigração. Esses movimentos somados partilham os eleitores em comum, que rejeitam o regime democrático, a economia liberal e o racionalismo econômico: juntos, eles substituem mitos e constituem uma frente de rejeição enorme, sem equivalente nas outras democracias ocidentais; e isso conta um terço da população francesa. Embora esses refuziniks da democracia liberal, portadores da discórdia, barretes frígios e ecologistas profundos se colocassem prudentemente no segundo turno atrás do candidato socialista e,  por reflexo, anticomunista – atrás de Nicolas Sarkozy. No entanto, em todo caso, o rancor do primeiro turno permanecerá e no futuro será manifestado por greves e outros movimentos sociais de maneira a tornar difíceis ou impossíveis as reformas racionais que seriam necessárias para evitar a falência imintente nas finanças públicas.

Essa falência vai se voltar para François Hollande, o vencedor no primeiro turno, vencedor provável no segundo turno. O “não” a Sarkozy no primeiro turno vai tornar o 6 de maio um round sem fervor, mas inevitável para Hollande. Como Hollande, de posse de seu novo cargo, mas sem o apoio de uma onda entusiasta e sem um programa, conseguiria tornar o Estado francês operacional e menos predador ao restaurar o espírito de competição entre os empresários? A vantagem de Hollande será de não ter prometido nada fora do previsto para não ser Sarkozy. Mas, já se pensou na forma do Estado no futuro? Não está claro: o que prenuncia um terceiro escrutínio doloroso, nas ruas ou nos mercados financeiros, são os grandes eleitores finais.

Tradução: Maria Júlia Ferraz

Disponível no site do autor



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