Como na Revolução Francesa, brasileiros lutam para acabar com os privilégios da elite política do país
Os governantes da democracia do Brasil estão perpetuando um comportamento aristocrático típico das monarquias europeias do passado
Quando, no fim do século 18, a aristocracia francesa soube em seus suntuosos palácios que o povo nas ruas se rebelava porque não tinha o que comer, um dos membros da corte afirmou sem titubear: "Se não há pães, que comam brioches!". Esta frase ficou famosa por denunciar a luxuosa realidade de fartura desfrutada pela nobreza do país. Além disso, o ato expôs a enorme distância existente na época entre governantes e governados.
Ambos aspectos foram essenciais para a acelerar a mobilização popular que gerou a famosa Revolução Francesa. Não tão diferente do exemplo europeu, o legado histórico do Brasil também alimentou uma postura arrogante dos políticos nacionais em relação aos seus "súditos".
O principal motivo para o desencadeamento da crise política nacional está na conduta discriminatória, clientelista e aristocrática praticada há tempos pelas autoridades do país. No passado, a monarquia francesa ergueu castelos impressionantes, promoveu festas de gala e banquetes homéricos. Ela ainda estimulou uma refinada produção cultural e grandes aventuras militares. Mas, concentrada em seus jogos palacianos e na vaidade pessoal, a nobreza antes da revolução esqueceu do povo e da função coletiva do Estado. O desdém dos governantes brasileiros em relação aos desejos dos cidadãos e como eles foram surpreendidos pelas mobilizações atuais são dois fatos que os colocam na mesma condição de alienação e abuso sistemático do poder observados na França do século 18.
Aqui, grande parte dos que conquistam um cargo público de relevância aproveita a condição para garantir os próprios benefícios e agir de forma abusiva para prevalecer seus interesses particulares, da mesma forma como ocorria nas antigas monarquias. Seguindo esta lógica arcaica, no Brasil políticos não são presos, distribuem regalias para parentes e amigos, exageram nos luxos, seus filhos não dependem de qualquer serviço do Estado, e se preocupam quase que exclusivamente com a dinâmica das alianças palacianas. De forma generalizada e alegórica, a democracia brasileira não está tão distante do autoritarismo aristocrata da França imperial.
De nada adianta para uma sociedade elaborar uma Constituição que, teoricamente, promove a justiça, igualdade e liberdade, se os condutores do sistema possuem elevadores, helicópteros e choferes exclusivos, recebem direitos legais excepcionais, utilizam a função pública como instrumento egoísta e não se preocupam em representar a voz dos cidadãos. Numa democracia, a principal responsabilidade legal de um juiz, congressista, governador, ministro, gestor, chefes de Estado e de governo é servir como uma extensão legítima e profissional do interesse comum.
Neste sentido, qual é a vantagem para os brasileiros ao testemunhar os aviões da FAB transportando autoridades e agregados para os jogos da Copa das Confederações? E por que poucas autoridades do poder público entenderam a insatisfação atual? Além disso, por que muitos dos governantes ainda não se sensibilizaram efetivamente com a onda de descontentamento e continuam se comportando como se nada estivesse ocorrendo nas ruas?
A resposta é simples: do alto dos tamancos aristocráticos dos palácios, parlamentos, tribunais e demais instituições governamentais, só é possível ver e ouvir bajuladores, alianças estratégicas, recursos bilionários, luxos extraordinários e tentações maquiavélicas. Está na hora da classe política brasileira tomar um banho de humildade e enfim compreender que, na democracia moderna, a justiça, a igualdade e a liberdade são valores que valem invariavelmente para todos.
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