Gol contra
Por Michael Zaidan, cientista político
Questionado sobre a paralisação dos transportes urbanos no Recife, o governador respondeu em linguagem futebolista, que não jogava no "Corner".
A resposta do primeiro mandatário do estado de Pernambuco é sintomática da omissão e da ausência de poder público em matéria de interesse da coletividade. Alegou ele que, como havia uma divisão na base sindical da categoria dos condutores de ônibus, ele não ia interferir para não fazer o "jogo" de ninguém. E que esperava a decisão da justiça (?) do trabalho, para obrigar as empresas de transportes urbanos a colocar os veículos na rua. Cômoda esta posição. Se fosse para cumprir alguma agenda esportiva, carnavalesca ou ligada aos interesses de alguma empresa estrangeira, manifestava-se de pronto o ativismo governamental e de seu supersecretário. Como se trata de mero serviço público de interesse da população, a solução pode esperar ou a polícia toma das providências.
Isto, em relação aos transportes urbanos, o pior de todos e o que mais subsídios recebe através da Câmara de Compensação. E o que dizer da Saúde? - Será que o governador não viu a manifestação dos médicos, que atuam no SUS, por melhores salários, melhores condições de trabalho e a avaliação dos médicos estrangeiros a serem contratados pelo governo federal? - Certamente que não. Ele e sua família não se tratam no hospital "Miguel Arraes", mas nas clinicas particulares do Recife. Os médicos, como os professores da rede pública, são tratados administrativamente como maus trabalhadores que, quando não são punidos abertamente, são indiretamente através de prepostos e/ou superiores hierárquicos.
Curioso também foi o desaparecimento da imagem do governador da mídia, durante as manifestações de rua. É como se ele não tivesse nada a ver com essas manifestações. Talvez o estado seja uma ilha de excelência em matéria de serviços públicos e por isso estivesse à salvo das manifestações. Na verdade, o mandatário se escondeu atrás do secretário da Defesa Social, que permitiu a violência de seus comandados contra Diretórios Acadêmicos, contra militantes e ativistas do movimento social, jogando spray de pimenta nos olhos de pacíficos manifestantes e obrigando pessoas a se retirarem das ruas, no fim das manifestações.
O famoso caráter "pacífico" das passeatas no Recife é uma mentira, destinada a "livrar a cara" do governador, como se a responsabilidade final dessa truculência não fosse sua.
Inquietante também é a omissão do prefeito da cidade, que vem se comportando como um secretário do governador. A cidade está cheia de problemas e de manifestações públicas contra a má prestação dos serviços. No entanto, não se vê a presença do gestor municipal, para apresentar soluções para os problemas de infra-estrutura, mobilidade, drenagem, asfaltamento das ruas etc. O gerente da Prefeitura não pode se contentar em promover campanhas publicitárias em torno da cidade e do gestor. Tem de arregaçar as mangas e enfrentar o protesto dos cidadãos, de forma democrática e propositiva, pois muitas foram as promessas de campanha, e a população parece estar vivendo no pior dos mundos possíveis.
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