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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

QUANTA INOCÊNCIA!...


A situação de Luís Inácio Adams continua insustentável. Ou: Cardozo, homem que confunde alhos com bugalhos

Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, está tentando encontrar a quadratura do círculo no que diz respeito à ética pública. A melhor coisa que faria para o país seria afastar-se enquanto durar a apuração do que realmente se passou na Advocacia Geral da União. E não tem de ser assim em razão de alguma acusação que lhe imputam. Ninguém o acusa de nada, a não ser de uma coisa, uma só!, que está autocomprovada: José Weber Holanda era o segundo da AGU por decisão sua. Mais do que decisão: foi uma insistência, uma determinação, uma teimosia.

Não havia outra pessoa na República habilitada para o cargo? A resposta, certamente, é sim. Não havia outra pessoa que gozasse de igual confiança do chefe (Adams)? Pelo visto, não! E é aí que está o problema, senhor advogado-geral; é por isso que Vossa Excelência tem de sair ou de ser saído.

Quando era chefe da Casa Civil uma certa senhora chamada Dilma Rousseff, Adms tentou fazer de Weber Holanda o seu segundo. A Casa Civil disse “não”. E disse porque o senhor em questão estava envolvido em alguns casos nebulosos, inclusive com processo na Justiça, de quando ainda era procurador-geral do INSS. Considerou-se, ora vejam!, que tinha bens incompatíveis com os seus rendimentos. Pois bem.

Dilma deixou a Casa Civil para se candidatar à Presidência. Em seu lugar, assumiu Erenice Guerra  – cujo destino é conhecido. E o que fez Adams? A exemplo do Pequeno Príncipe, que nunca desistia de uma pergunta, Adams decidiu não desistir de sua indicação: voltou ao nome de Weber Holanda. E, aí, emplacou. É de se indagar, claro!, como a presidente aceitou o funcionário que a Dilma da Casa Civil havia rejeitado. Talvez não tenha prestado atenção.

Notem bem: Adams, está evidente, FEZ QUESTÃO DE TER WEBER HOLANDA. Como nada indica, fazendo um gracejo, que se trate de uma “relação íntima” do tipo que Lula mantinha com Rosemary, a insistência não encontra justificativa nem mesmo no que tenho chamado de “amores ancilares”. Qual é a raiz da atração fatal de Adams? A notável capacidade intelectual do rapaz? Não parece que seja pra tanto. Ao tentar se justificar, tivemos pistas de um intelecto não muito atraente.

Adams conhecia esse processo. Insistiu em Weber Holanda mesmo assim. Afirma que a investigação já havia sido arquivada, o que é fato. Mas o fora porque houve perda de prazo, não porque se tenha analisado o mérito. Sem condenação judicial, com efeito, todo mundo é inocente. Assim é no direito penal. Mas estamos aqui a falar de política. Não se pode aplicar pena a ninguém sem condenação. OCORRE, SENHOR ADAMS, QUE NÃO CONTRATAR ALGUÉM PARA A AGU EM RAZÃO DE UM PROCESSO DESSA NATUREZA NÃO É APLICAÇÃO DE PENA! Trata-se apenas de prudência. Deixar de lisonjear alguém com um cargo não é uma punição, senhor advogado-geral!

Em audiência pública no Senado nesta quarta, Adams alega agora que não sabia de alguns casos aos quais aparece ligado o nome de seu ex-braço-direito, ao qual ele conferiu amplos poderes. Bem, isso só piora a situação e torna ainda mais pessoal e personalista a indicação de Weber Holanda. São muitos os casos importantes em que este senhor atuou. Um deles, envolvendo uma ilha do interesse do ex-senador Gilberto Miranda, remete a uma operação verdadeiramente bilionária.

Falácia de Cardozo
Presente à audiência, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça – também um convidado –, tentou sair em socorro do advogado-geral, afirmando que nem sempre é possível saber de tudo etc e tal. E usou como exemplo o ex-senador Demóstenes Torres, que foi cassado pelo Senado. Todos o tinham na condição de pessoa respeitável e acima de qualquer suspeita, citou Cardozo, lembrando que ele próprio o recebeu algumas vezes.

Vamos lá. Pra começo de conversa, petista que é, Cardozo já se reuniu na vida com gente bem pior do que Demóstenes. Logo, não adiante ele tentar tomar o ex-senador como o pior exemplo de pessoa com a qual já dividiu o teto porque isso é obviamente falso. Em segundo lugar e não menos importante, Demóstenes foi eleito pelo povo de Goiás; Weber Holanda foi eleito por Adams. Agora que o povo conhece a ficha de Demóstenes, duvido que seja eleito para alguma coisa. Adams elegeu o seu braço-direito conhecendo muito bem a sua ficha e dando de ombros pra ela, ignorando, inclusive, a restrição que havia sido feita pela Casa Civil.

A situação de Luís Inácio Adams é, no que concerne à ética da coisa pública, insustentável. Quando menos, deveria se afastar ou ser afastado enquanto se apura o que de fato aconteceu na AGU. De uma coisa o sr. Adams não pode escapar: ao nomear Weber Holanda, ele decidiu correr o risco. Ou melhor: ele decidiu fazer o Brasil correr o risco!

PS – De modo um tanto patético, Adams afirmou que, doravante, qualquer nomeação feita por seu gabinete terá como exigência prévia um “nada consta” da corregedoria do órgão. Sei… Aquele que ignorou o veto da Casa Civil agora promete se subordinar a uma departamento da CGU.

Por Reinaldo Azevedo

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