Oficiais cassados rebatem manifesto de clube militar, chamam colegas de farda de monstros, defendem vítimas da ditadura e reacendem polêmica em torno da Comissão da Verdade
Pedro Marcondes de MouraOS SIGNATÁRIOS
O brigadeiro Rui Moreira Lima (acima) e os comandantes da Marinha Luiz
Carlos Moreira (abaixo) e Fernando de Santa Rosa (última) dizem que familiares
das vítimas da ditadura precisam saber o que aconteceu com seus entes
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Nos últimos dias, um novo documento polêmico começou a circular nos sites de militantes de esquerda e de entidades e comitês de Justiça. A carta aberta rebate com veemência o manifesto dos Clubes Militares que critica a presidenta Dilma Rousseff pela criação da Comissão da Verdade e exige punições para os agentes do Estado que cometeram violações durante a ditadura.
Não, não se trata de um novo documento redigido pelo próprio governo, com ameaças de punição e fechamento das organizações militares nem de um texto elaborado por grupos de direitos humanos ou familiares de torturados ou desaparecidos políticos.
A carta “Militares em Defesa da Democracia” foi escrita por Luiz Carlos de Souza Moreira, 76 anos, e Fernando de Santa Rosa, 78, dois comandantes da Marinha, sócios de clubes militares, e revela que a caserna não anda falando a mesma língua neste caso.
No texto, Moreira e Santa Rosa, além de chamarem o manifesto subscrito pelos colegas de farda de “insensato”, lamentam que oficiais das Forças Armadas tenham praticado tortura e outros crimes bárbaros. “Onde estão os corpos dos que foram mortos pelas agressões sofridas?”, questiona o texto. “Os seus familiares querem saber”, complementa.
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Os dois militares tiveram as carreiras abreviadas. Foram aposentados compulsoriamente logo após o golpe de 1964 por exercerem cargos de confiança em gabinetes contrários à derrubada do então presidente João Goulart e amargaram períodos presos junto com colegas de diversas patentes.
“Oficiais de pijama querem criar um clima de insatisfação inexistente na ativa das Forças Armadas para não serem desmascarados”, diz o comandante Moreira. “Não é justo esses monstros levarem uma vida normal, anistiados e com pensões, enquanto as vítimas precisam enfrentar diversas comissões para ter reconhecidos os seus direitos”, complementa.
O manifesto ganhou força com a assinatura do brigadeiro Rui Moreira Lima. Herói da Segunda Guerra e condecorado por diferentes países, ele decolou em um caça, em 1964, e ficou em posição para atirar nas tropas do general Mourão, que marchavam para depor o presidente Jango, à espera de uma ordem superior que nunca veio.
Com o golpe consolidado, voltou à Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e transferiu o controle dos comandados aos novos gestores do País, mesmo sabendo que seria alvo de perseguições.
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Fonte: Revista
IstoÉ/Brasil
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