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quinta-feira, 22 de março de 2012

INDIGÊNCIA INTELECTUAL, POLÍTICA E MORAL

22/03/2012 às 22:20

- Senado cobra fim da prisão de Guantánamo e do embargo a Cuba. Atenção! Foi o Senado Brasileiro! Mas isso é pouco!

Ah, meu Jesus Cristinho! Eis um daqueles momentos em que o ato de dar a notícia já provoca na gente um profundo sentimento de vergonha. Leiam o que informa a Agência Senado. Volto em seguida:
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A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) decidiu, nesta quinta-feira (22), fazer um apelo aos Estados Unidos para que “suspendam o bloqueio econômico e comercial a Cuba”. Logo em seguida, no entanto, a comissão rejeitou a proposta de solicitar ao governo de Cuba a concessão de um indulto aos presos políticos que ainda estão nas cadeias daquele país e a autorização para que a blogueira Yaoni Sánchez possa viajar a outras nações, como o Brasil.

As duas medidas foram sugeridas em requerimentos do mesmo senador, Eduardo Suplicy (PT-SP), e receberam o apoio do senador Pedro Simon (PMDB-RS), relator em ambos os casos, Durante a votação, porém, apenas o primeiro requerimento foi aprovado. 

Na votação do segundo requerimento, dos 10 senadores presentes, apenas três - Suplicy, Simon e Ana Amélia (PP-RS) - manifestaram-se pela aprovação.

Ao defender os dois requerimentos, Simon fez uma dura crítica à manutenção do embargo econômico a Cuba, que se mantém por mais de 50 anos. Ao mesmo tempo, o relator considerou justo pedir a Cuba que “avance no sentido das liberdades”, permitindo a entrada e a saída de cidadãos cubanos do país e a libertação de prisioneiros políticos. Ele considerou interessante que os dois requerimentos fossem votados ao mesmo tempo.



Logo em seguida, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) anunciou sua posição favorável apenas ao primeiro requerimento. Em sua opinião, o bloqueio econômico a Cuba pode ser considerado um “atentado aos direitos humanos”, por prejudicar a população do país. Por outro lado, perguntou quem estaria financiando o trabalho da blogueira Yaoni Sánchez e criticou a proposta de Suplicy para que o governo cubano libertasse os prisioneiros políticos da ilha.



“Respeito Cuba e não gostaria que entrássemos em questões internas daquele país”, afirmou Vanessa. O mesmo argumento foi utilizado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), para quem os dois requerimentos tinham naturezas diferentes. Segundo ele, o Senado brasileiro estaria “invadindo a soberania cubana” ao dizer àquele país quem deve ou não permanecer preso. Simon argumentou, por sua vez, que a aprovação simultânea dos dois requerimentos estaria no contexto de uma proposta de “pacificação geral” nas relações entre Estados Unidos e Cuba. Suplicy também pediu a aprovação das duas propostas. “Nos Estados Unidos dizem que, se Cuba der sinais de maior liberdade, vão acabar o embargo mais rapidamente. O embaixador de Cuba não responde mais a meus telefonemas, mas faço isso como amigo do povo cubano”, disse Suplicy.

O presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), previu que a aprovação do segundo requerimento poderia se tornar uma “mensagem mal entendida pelo governo cubano”. O pedido, em sua opinião, poderia distanciar o Brasil de Cuba e “dificultar um diálogo mais fluido com aquele país”. 



Da mesma forma, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse que o texto proposto por Suplicy poderia ser considerado “uma intromissão em assuntos internos de um país com o qual o Brasil tem boas relações”. O requerimento aprovado pela comissão pede ainda ao governo dos Estados Unidos que liberte cinco cubanos presos em seu território, acusados de espionagem, além do fechamento da base militar de Guantánamo, mantida pelo governo americano em território cubano.

Voltei

Pois é… Achei que o mal de Suplicy fosse uma “idiopatia”, se me permitem o neologismo (para entender o significado, buscar no dicionário o sentido de “id” e “pata”). Mas não! Noto que o mal é contagioso. Se bem que, com uma exceção ou outra, o grupo ali não inspirava mesmo grande confiança, especialmente quando o assunto é política externa…

Então vamos ver. O Senado brasileiro acha que está a seu alcance cobrar dos EUA — essa ditadura asquerosa, certo? — que suspenda o embargo contra aquele exemplo de democracia que é Cuba. Também quer o fim de Guantánamo, onde — falamos sobre isso ontem — estão presos terroristas. Encanta-me, adicionalmente, o senso de oportunidade: no dia em que Mohammed Merah foi morto pelas forças de segurança francesas. Nota: ele foi preso pelos americanos no Afeganistão e entregue à França, que o deixou solto… Uma pena que não tenha sido mandado para Guantánamo. Mas vamos seguir.

A maioria da tal comissão achou que lhe cabia fazer essas cobranças aos EUA, mas se negou a pedir a libertação dos presos políticos. Atenção! Cuba é um dos poucos países do Ocidente em que há prisioneiros de consciência. Também não quis votar uma moção em favor da viagem de Yoani Sánchez. Como a “idiopatia” de Suplicy é ideologicamente orientada, é claro que essa proposta era o emprego da virtude em favor do vício. Para todos os efeitos, ele propôs coisas dos dois lados; os outros é que não aceitaram, entenderam?

Vejam que lindo! A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) não quis pedir a libertação dos presos de consciência porque alegou que “tem muito respeito por aquele país”. Ora, por que não teria? Pensa o mesmo o tal Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) — que, se cubano, certamente estaria trabalhando, debaixo de chicote, em um canavial.

Cuba está entre os países que têm os presídios mais insalubres e precários do mundo; pessoas que cometeram o crime de pedir democracia são confinadas junto com bandidos comuns. Em comparação com as instalações prisionais do país, Guantánamo é um paraíso. Aliás, os terroristas que estão presos ali vivem melhor do que os prisioneiros do outro pedaço a ilha — refiro-me à população como um todo.

Os senadores foram fundo na impostura. Não pediram que Cuba liberte seus presos de consciência porque consideraram que isso seria intromissão em assuntos internos, certo? Não obstante, cobraram que os EUA soltem cinco cubanos presos no país, a saber: Ramón Labañino, René González. Tony Guerrero, Fernando González e Gerado Hernández Nordelo.

São, comprovadamente, agentes da ditadura cubana detidos nos EUA.

Entenderam a moral dos nossos valentes? Não se deve exigir que Cuba liberte inocentes porque isso seria uma intromissão inaceitável em seus assuntos internos. Mas lhes parece razoável que se exija que os EUA libertem culpados.

A indigência intelectual e moral em que chafurda a política brasileira assume dimensões absolutamente inéditas.

Nunca antes na história da própria indigência!

Por Reinaldo Azevedo

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo

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