sábado, 21 de dezembro de 2013
Pergunte para o Tio Sam...
Edição do www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão
Foi um absoluto gol contra a diplomacia norte-americana a estranha declaração do ex-embaixador dos EUA no Brasil sobre o desfecho da compra dos novos caças para a Força Aérea Brasileira. Thomas Shannon pisou na bola ao confessar que a Casa Branca ficou decepcionada com a escolha dos suecos.
Admitir derrota, com tanta sinceridade, foge ao tradicional paradigma de negociação dos Ianques... Agora, o ato falho de Shannon ainda serve para o governo Dilma Rousseff fingir, simbolicamente, que se vingou dos EUA no episódio da espionagem promovida pela NSA (a Agência Nacional de Segurança deles).
A maior prejudicada foi a Boeing – cuja divisão brasileira é presidida por Donna Hrinak, que foi embaixadora do Tio Sam por aqui entre 2002 e 2004. A derrota foi mais feia porque Hrinak é membro do Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Relations) e do Diálogo Inter-Americano. É mais evidência de que a Oligarquia Financeira Transnacional, que comanda tais instituições, está rompida com a petralhada.
A Boeing vai ganhar dinheiro por aqui em outra linha. Será inevitável que o governo brasileiro seja forçado a abrir o mercado para outras empresas aéreas, rompendo o duopólio TAM-GOL. O gatinho angorá Moreira Franco negocia o assunto. Se novas empresas entrarem aqui, em um novo sistema de aviação regional, Hrinak poderá vender seus 737 Max e sair do prejuízo com a derrota na venda dos caças F-18.
Sem dúvida alguma, quem se deu bem com a definição pelos suecos foi nossa Aeronáutica. Todo mundo sabia que velhos caças estavam inoperantes. Literalmente, não podiam sair do chão. Por isso, o acordo com a Saab, que é uma divisão da Scania, foi definido com urgência, mesmo contra a pressão dos norte-americanos da Boeing e dos franceses da Dassault. E a vantagem maior: nossos militares poderão participar do desenvolvimento do Gripen NG.
Ontem, outra notícia salvadora. Karin Enström, ministra da Defesa Suécia, prometeu ceder, logo no começo do ano de 2014, caças Gripen C/D para a FAB. Será a salvação, porque os nossos caças atuais não saem mais do chão. A licença do software deles está vencida. Por isso, avião novo é um caso de urgência urgentíssima. Os militares já estavam pressionando o governo há muito tempo. E o Gripen zero bala só chega em 2018...
Além da FAB, quem se deu bem nessa história do Gripen foi o prefeito de São Bernardo do Campo. Luiz Marinho, desde o começo das negociações, sempre foi o grande lobista da Saab. Chegou até a criar rusgas com o padrinho Lula – que chegou a escolher os franceses e depois os traiu, como bom sindicalista de resultados e pragmático colaborador do DOPS da dita-dura. Agora, como a fábrica do Gripen será em SBC, até Lula vai tirar onda de que ajudou trazer o negócio para a cidade em que mora...
Quem se deu mal na história, além dos norte-americanos e franceses, foi o ex-ministro da Defesa. Nelson Jobim foi o maior defensor de que a FAB fechasse com a turma da Dassault. Depois, quando o negócio não vingou, Jobim partiu para oferecer, nos bastidores militares, a alternativa de adquirir aviões russos – o que ainda não está descartado, na emergência, até o primeiro dos 36 Gripen chegar em 2018... Agora, para Jobim, o esquema entrou em ritmo de dane-se o avião...
Uma coisa é certa. A parceria com os suecos, se não for sabotada por forças ocultas, parece uma boa para o Brasil. A Embraer também deve entrar na parceria com a Saab. Se tudo der certo, daqui a duas décadas, o Brasil pode ter uns 100 caças Gripen operando por aqui. E a fábrica de SBC ainda poderá exportar aviões.
Tal futuro pertence aos senhores deuses da guerra comercial... Se eles deixarem, vamos decolar... Do contrário...
Nenhum comentário:
Postar um comentário