Até quando apanhar?
Na Subida do Morro
Me Contaram
Que você bateu na minha nêga
Isso não é direito
Bater numa mulher
Que não é sua
Deixou a nêga quase nua
No meio da rua
A nêga quase que virou presunto
(Moreira da Silva e Ribeiro Cunha)
Se a economia brasileira fosse uma mulher, estaria apanhando tal qual na letra do samba de Moreira da Silva, o Kid Morengueira. Definitivamente, enquadra-se na Lei Maria da Penha por agressões e maus tratos. A "nêga" já mostra sinais de cansaço de tanto apanhar, porém o agressor continua batendo nela; insiste no mesmo remédio, crendo que a "nêga" irá ceder aos seus encantos. Ledo engano.
A "nêga" chamada "superávit primário", que nada mais é do que a economia entre receitas e despesas para pagamento dos juros da dívida, já há algum tempo não alcança sua meta de 3,1% do PIB. Ano passado, pelos truques contábeis do Mantega, foi de 2,00% do PIB (governo central), pelos números corretos foi algo como 1,80% do PIB (também somente governo central, sem estados e municípios). Além de ser um governo gastão, o atual comando da economia corrói a credibilidade do país por meros 0,20% do PIB. E a gastança, ao que tudo indica, não tem conseguido gerar crescimento.
A "nêga" chamada "meta de inflação" permanecia inconsciente num canto da sala quando começou a dar sinais de vida (tênues, por hora). O Banco Central, em sua última ata, finalmente reconheceu que o problema da economia nacional não é falta de demanda (que sim senhor, já está bem aquecida) e sim a oferta. A economia não cresce por falta de investimento. Pela primeira vez, o BC (ainda que timidamente, usando seu linguajar peculiar) apresenta um discurso diferente daquele da presidente Dilma e de seu despachante, o Guido. O BC deixa claro que a falta de oferta é problema do governo e não dele. Com isso,depreende-se que não haverá mais aventuras com os juros para baixo; porém isso não indica que o BC ganhou autonomia para subir os juros sem autorização da Dilma.
O principal motivo de preocupação com a inflação no curto prazo reside no mercado de trabalho extremamente apertado (já vivemos o pleno emprego) e um governo que a todo custo deseja o crescimento econômico. Como crescer sem mão de obra disponível? A saída desse dilema, sem gerar inflação, é o aumento de produtividade, o que não ocorre da noite para o dia e sem investimentos em educação. Não podemos esperar isso no curto prazo.
É claro que o governo usa de todas as artimanhas possíveis (redução do preço de energia, postergação dos aumentos dos transportes e sangria da Petrobrás ) para manter o IPCA dentro da sua meta de 6,5% ao ano. No curto prazo ele tem sido bem sucedido, porém sabemos que a inflação é como um imenso caminhão, tem muita inércia para sair do lugar, mas depois que sai é complicado segurar o bruto.
Voltando para o lado da oferta, sabemos que os grandes investimentos industriais analisam certos aspectos como estoque de mão de obra qualificada com custo justo e oferta de energia. Sabemos que qualquer novo projeto de grande monta terá dificuldades em contratar e não há garantia de energia.
É claro que a energia do Brasil era muito cara. Mas reduzir estes 20%, da maneira como foi feito e, principalmente, com a oferta limitada, é no mínimo temerário. Se, em 2012, com o país crescendo 1% e o preço caro, o consumo cresceu 4%, imagine em 2013, se o país crescer algo como 2% e com o preço da energia 20% mais baixo. Quanto será o aumento de consumo? Haverá oferta?
Olhando para a última "nêga", que se chamava "câmbio flutuante",vê-se a maneira errática de agir do governo petista. Quando quem esperneava mais alto era a FIESP, o câmbio oscilando entre 2,05 e 2,10 era interessante para o governo. E para lá ele foi. Quando a inflação começou a incomodar, lá veio o governo dizendo (através de leilões de swaps cambiais) que o nível era um pouco mais embaixo. E lá foi o valor do dólar para abaixo de R$ 2,00. Nos restaurantes, há o "menu do chef" e no Brasil, o "câmbio da Dilma".
O Brasil, já há algum tempo, não tem uma política econômica baseada em regras estáveis e previsíveis; o que existe é a política do "puxadinho":uma improvisação levando à outra até o surgimento de uma favela com barracos amontoados no barranco. Quando a chuva forte chegar....
Não é a toa que a imprensa internacional tem criticado a errática forma de governar de Dilma & Cia. Publicações sérias como The Economist e Financial Times parece que demoraram, mas pegaram gosto em denunciar o agressor da "nêga". O queridinho da vez,para os investidores estrangeiros, é o México. O vizinho dos americanos tem lá os seus problemas crônicos, mas tem feito o dever de casa e está pegando uma carona com a recuperação dos EUA.
Não que deva haver uma catástrofe iminente, apenas uma preguiçosa (bocejando, por favor) economia, com inflação em alta, infraestrutura em pandarecos e, mais uma vez, perdendo o bonde da história para nos tornarmos uma nação decente.
Não fica difícil entender porque o Ibovespa fechou o primeiro mês do ano no território negativo enquanto o SP500 já acelera no ano com cerca de + 7%. Quando olhamos uma empresa como a Apple, que fatura USD 157 bilhões, com margem de 27% e negocia (após a correção) com relação preço-lucro de 10, fica complicado comprar as ações de consumo brasileiras com o triplo de relação preço-lucro. E o que ainda está barato (Petrobrás, Vale, bancos) não parece que vai começar a andar. Não esperem um ano interessante para as ações brasileiras; há opções mais interessantes lá fora.
Na renda fixa, os prêmios estão magros e não compensam o risco de posições pré-fixadas ou mesmo compradas em ativos públicos atrelados a inflação (NTNB). Uma NTNB para 2014 paga hoje IPCA + 1,84%. Se os alquimistas conseguirem ajustar o IPCA para 5,5% (sem chicanas eu creio algo como 6,5¨%) teremos apenas 7,34%, bem perto do CDI. Ainda é melhor do que ficar pós fixado, mas os grandes ganhos se deram em 2012. Quem comeu, comeu.
Quanto às posições cambiais, o melhor a fazer é esquecer. O câmbio vai para onde o humor do dia da Dilma mandar. Não dá para apostar.
O momento é escorregadio. Estamos vivendo uma era onde os ativos financeiros carregam um risco superior ao seu retorno potencial. O poder de compra do dinheiro se deteriora numa velocidade maior do que o índice oficial de inflação. A resposta dos indivíduos é um afluxo de dinheiro para o setor de imóveis. Isso fica claro quando olhamos a demanda altíssima de 2 fundos imobiliários (de agências de bancos) recém-lançados. Nos dois casos a demanda foi 10 vezes a oferta. Como o preço dos imóveis também está em seu máximo histórico, a chance de se fazer besteira também é grande.
Hoje, após anos de juros reais altos, chegou a hora de profissionalizar a gestão dos seus investimentos e saber que mais do que os juros fáceis do CDI, o vetor de crescimento do seu dinheiro virá de bons investimentos, a boa e velha economia e aportes mensais. Lembre-se que você agora vive em um país de juros reais perto de zero e com nível de vida bem caro. Como você está planejando a sua aposentadoria?
Fonte:http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/
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