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sábado, 2 de fevereiro de 2013

( DEMO)CRACIA NO BRASIL É UMA FALÁCIA


Tucanos pra quê?

Não tem jeito, não! As coisas não acontecem por acaso. A oposição não chega ao estado miserável a que chegou no Congresso por acidente. É preciso muito esforço para isso. É preciso haver muita dedicação. E nisso, convenham, os tucanos são de uma aplicação comovente. Pelo critério da proporcionalidade, ao PSDB caberia, como coube, a Primeira Secretaria da Mesa Diretora do Senado, mas a turma de Renan Calheiros (PMDB-AL) poderia ter retaliado e negado a vaga ao partido. Não é lei, mas acordo. Já que, oficialmente, o partido havia se alinhado com a candidatura adversária, não haveria por que cumprir compromisso. E os patriotas de Renan até chegaram a pensar nisso. Quando, no entanto, foram computados os votos, tiveram uma certeza: parte da bancada, os bons de bico, traiu o compromisso e deixou Pedro Taques (PDT-MT) na mão. E aqueles que o fizeram certamente deram um jeito de fazer chegar ao rei posto a sua (in)fidelidade.
Eu já havia escrito aqui que o coração de muitos tucanos pulsava mesmo é pelo peemedebista. Assim, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) assumiu a Primeira Secretaria sem medo se ser feliz. Ele também é investigado pelo Ministério Público Federal. Temos uma Mesa Diretora formada por heróis.
Os 11 tucanos poderiam vir a público para declarar o seu voto. Não se trata de patrulha, não, mas de vergonha na cara. Já que se anunciou à sociedade o apoio ao adversário de Renan, cumprira agora deixar claro quem fez o quê. Notem: ninguém é obrigado a abrir o voto. Mas todos podem se dispensar de mentir. Se havia senadores contrários ao apoio a Taques, que dissessem, ora.
Aécio Neves (PSDB-MG), cotado para ser presidente do partido e apontado como candidato à Presidência da República, havia acenado com a possibilidade de fazer um discurso em defesa da candidatura de Taques. Discurso não houve. O senador se limitou, há alguns dias, a fazer uma espécie de convite-apelo a Renan para que retirasse a sua candidatura. O alagoano não topou, claro… O apoio ao opositor de Renan, no fim das contas, foi uma operação de marketing que acabou saindo pela culatra. Agora, resta  suspeita da farsa, do adesismo e da traição, tudo misturado. Se era para fazer esse papelão, melhor teria sido defender que a presidência coubesse à maior bancada e fim de papo. Melhor a sabujice franca do que a dissimulada.
No dia 3 de setembro de 2012, escrevi aqui um texto afirmando que a greve que realmente faz mal ao Brasil é a greve da oposição, que está paralisada há sete anos, caminhando para oito, desde quando ficou com medo das consequências e recuou diante da possibilidade de pedir o impeachment de Lula, na crise do mensalão. Depois disso, não se encontrou mais.
É claro que há líderes regionais importantes do partido. No próprio Congresso, há deputados e senadores que fazem um trabalho sério e não temem confrontar o governismo em questões relevantes. Já destaquei aqui o trabalho, por exemplo, de Álvaro Dias (PR) e Aloysio Nunes (SP) — espero que estejam entre aqueles que votaram em Taques. O que falta, no entanto, é uma diretriz partidária. Que cara tem, afinal, o “maior menor” partido de oposição do país? Quer o quê? Acena com quais valores? Não se sabe. Há um vazio de mensagem, há um vazio de propostas, há um vazio de liderança.
Assim, cabe a pergunta: “Tucanos pra quê?”.
Não é um qualquerA eleição de Renan Calheiros é uma porrada na cara da nação. Estou entre aqueles que acham que a oposição tinha a obrigação política de apresentar uma alternativa, ainda que o PMDB tivesse apresentado como candidato uma vestal. Mas não! Tratava-se de Renan Calheiros, que já teve de renunciar a esse posto. Assume a cadeira denunciado por três crimes. “Ah, mas ele é inocente até não ser condenado pela Justiça…” Fato. Ocorre que estamos falando de política, não de polícia — ainda que essas duas palavras sejam quase anagramáticas. A Justiça vai, sim, decidir se ele cometeu crimes ao tentar provar que pagava pensão à ex-amante e a um filho com recursos próprios. O que é incontroverso é que uma empreiteira arcava com as despesas.
Um partido ou um grupo que tem a ambição de chegar ao poder tem de escolher uma mensagem, tem de mobilizar fatias da sociedade, tem de definir com quem quer falar. Há dez anos — notadamente dos últimos sete! —, o PSDB, como voz institucional, foge miseravelmente de todos os embates e se expõe ao descrédito e à chacota daqueles que entendem que a democracia é o regime das alternativas, não do discurso único.
Eu não sei a resposta. Se os tucanos sabem, poderiam nos dizer: “PSDB pra quê?”.
Por Reinaldo Azevedo

Fonte:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

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