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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

É preciso perceber quando eles vão além dos limites




Collor caiu por causa de muito, muito menos. Tragam-no de volta, ou FORA LULA!

Citação:
"O Lula e o PT estão tentando cruzar cabra com periscópio, para ver se acham um bode expiatório." - Autor desconhecido


Artigo de Reinaldo Azevedo

É PRECISO PERCEBER QUANDO ELES VAO ALÉM DOS LIMITES

Gostei do editorial de hoje da Folha (ler posts anteriores, no blog do autor) por uma razão em especial: uma democracia precisa saber quando os atores políticos ultrapassaram o limite do aceitável. E, então, é necessário que se acenda o farol vermelho: “Epa! Não dá! Não é mais permitido avançar”. Foi o que fez o grupo de ministros que comandou a feitura do dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, a professora Ruth Cardoso — uma das figuras mais discretas e avessas à fatuidade do poder que já passaram pelos salões de Brasília. Quatro ministros, reporta o Estadão deste sábado (ler abaixo), com o pleno conhecimento do presidente da República, dedicaram-se à tarefa de usar informações e estrutura do estado para constranger adversários políticos: além de Dilma, Paulo Bernardo (Planejamento), José Múcio (Relações Institucionais) e Franklin Martins (Comunicação Social).

A prática, é desnecessário dizer, é própria de estados policiais. Na carta que enviou à VEJA, Dilma Rousseff, em cujo ministério se tramou a malfeitoria, tenta investir numa ridícula teoria conspiratória: “A quem interessa?”, pergunta ela. Dilma, mais do que ninguém, é dona dessa resposta porque participou do grupo que decidiu fazer o, como é mesmo, ministra?, “levantamento”. Não se organiza tal “base de dados” a menos que se pretenda usá-la. Reportagem de ontem da Folha deixa claro que o dossiê que passou a circular é uma seleção dos dados do tal Suprim. É o que está claro na reportagem da VEJA da semana passada.

Aqui e ali se especula, um tanto ridiculamente, parece-me, que setores do próprio PT poderiam estar interessados em alvejar a ministra, já que sua figura teria assumido uma dimensão incômoda no governo, sobressaindo-se como peça importante na eleição de 2010. O PT já fez muitas bobagens, é inegável, mas abrir fogo amigo porque esta senhora chega a ter 2% das intenções de voto?

Ora, jornais e revistas estavam coalhados de insinuações de supostos gastos “exóticos” do governo FHC. Os petistas já usavam a “base de dados” para fazer à CPI requerimentos direcionados. O circo estava armado para que o papelório funcionasse como uma cornucópia de acusações contra o antecessor de Lula caso as oposições insistissem em ter informações sobre os gastos do atual presidente. Dossiê, sim! Dossiê para intimidar e, eventualmente, chantagear. Não! Não há fogo amigo nenhum! Ocorre que Dilma, como se vê, não pode responder sozinha pela obra. Não faltou à conspirata nem mesmo o ministro da Propaganda, o grande pauteiro de certo jornalismo, Franklin Martins.

Ora, Lula sabia de tudo, vê-se. E sempre soube: deste dossiê, do outro, do mensalão, da casa-da-mãe-joana que é o seu governo no que respeita às questões institucionais, permanentemente rebaixadas. E tanto mais rebaixadas quanto mais aumenta a sua popularidade. Lula usa o seu prestígio junto ao eleitorado para transformar o vale-tudo em coisa corriqueira da política. Vimos isso anteontem, com o elogio feito a Severino Cavalcanti, o homem que renunciou porque não conseguiu explicar o “mensalinho”. Repetiu a dose ontem, ao cantar as glórias do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), obrigado a deixar a presidência do Senado. Não se trata apenas de um governo dado a ilegalidades: também “anistia” políticos flagrados em atos que vão da falta de decoro ao crime.

Lula, em suma, usa a sua popularidade (conseguida, em boa parte, porque o programa histórico do petismo para a economia foi, felizmente, jogado no lixo) para desmoralizar as instâncias da democracia representativa e do estado de direito. Com ele, aumenta sempre o hiato entre essa popularidade e a legalidade. “A quem interessa o dossiê?”, quer saber a ministra Dilma. A quem quer governar acima dos partidos, das leis, das instituições. Ora, Lula não vai mudar uma lei, dentro de alguns dias, para, vejam só, “legalizar” a compra da Brasil Telecom pela Oi. Por aqui, já escrevi, não se fazem negócios de acordo com as leis. As leis passaram a ser feitas de acordo com os negócios.

Temos ainda uma imprensa vigilante, que não se deixa intimidar pela popularidade do demiurgo — que lhe é conferida, é bom lembrar, pela democracia representativa. Temos um aparato legal que ainda não foi conspurcado pelos que estão determinados a assaltar o estado de direito, embora o presidente tenha manifestado simpatia por chicaneiros que pretendem intimidar a imprensa. Mas cumpre ser vigilante.

A vigilância é necessária porque este governo, seguindo a sua natureza, não sabe se comportar quando é bem-sucedido (ao menos segundo a percepção pública). A vocação autoritária de seus comandantes — alguns ainda caudatários de delírios totalitários — faz com que usem o prestígio que têm para pôr uma canga na sociedade. Em cinco anos, as oposições criaram uma única dificuldade para Lula: a derrota da CPMF. Todas as outras crises foram criadas pelos petistas. Em todas elas, o partido tentou usar um momento de lua-de-mel com o eleitorado para fazer avançar o seu projeto autoritário.

Na lei ou na marra.


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