Os fascistas de esquerda da política e da imprensa querem censurar a oposição, o jornalismo independente e o debate. É parte da guerra cultural para impor a sua pauta. Isso tem história e teoria
16/10/2012 às 5:31
Já
recomendei o livro algumas vezes e volto a fazê-lo. Leiam “Fascismo de
Esquerda” (Editora Record), do jornalista americano Jonah Goldberg. Ele
evidencia como as esquerdas, nos EUA (lá, chamam-se “liberais” — não
confundir com o “liberalismo” como doutrina do livre mercado), tentam
cercear o debate, promovendo uma verdadeira guerra cultural — prática
herdada de totalitarismos d’antanho — para silenciar o “inimigo”. Nos
EUA, demonstra-o a campanha eleitoral em curso, essas forças são menos
bem-sucedidas do que por aqui.
Li há
pouco nos sites noticiosos que o presidente do PT, Rui Falcão, acusa o
tucano José Serra de disseminar o “ódio” — nada menos! — na campanha
eleitoral. O espantoso não é que diga isso, já que espero de Falcão
rapinagens teóricas ainda mais grosseiras. O espantoso é que lhe deem
trela e julguem que isso é notícia. Referindo-se ao julgamento do
mensalão no Supremo, este senhor afirmou que tudo não passava de uma
reação da “elite suja e reacionária”. Ele se referia apenas ao Poder
Judiciário. Às vésperas da instalação da CPI do Cachoeira — da qual o PT
e PMDB saíram correndo para não investigar a Delta e os “cachoeiras” de
mais elevada estirpe que estão fora de Goiás —, o presidente do PT
gravou um vídeo em que afirmou: “As bancadas do PT na Câmara e no Senado
defendem uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do
mensalão”. Estrelas do seu partido estão por aí a pregar uma “reação” —
QUAL SERÁ? — ao Supremo. Eis Falcão! Um homem sem ódio no coração!
Guerra de valores
Vamos pensar um pouquinho. Quem é que se dedica já há anos — e cada vez com mais ênfase — a promover uma guerra de valores na sociedade entre “conservadores” e “progressistas”? Quem é que se empenha com dedicação a dividir a sociedade em vez de uni-la? Na ofensiva, o esquerdismo significa cotas raciais, integrar a cultura gay à cultura predominante, apagar da praça pública os símbolos do cristianismo e um sem-número de ambições explicitamente culturais. Isso que escrevi em negrito, caros leitores, é trecho do livro de Goldberg. Ele se refere aos EUA. Parece falar sobre o Brasil. Só troquei a palavra “liberalismo” (empregada pelo autor) por “esquerdismo” para não confundir os registros. Entre nós, “liberalismo” quer dizer necessariamente outra coisa.
Vejam o
caso do tal kit gay. Não se trata, é evidente, de demonizar este ou
aquele grupos ou de negar que possa haver manifestações de preconceito.
Ocorre que, quando se escolhe fazer um kit como aquele, faz-se a opção
por uma abordagem também política. Trata-se de uma escolha. Como tal,
pode — e deve — estar submetida ao crivo crítico, às contraditas, aos
argumentos contrários. Não para os “fascistas de esquerda”. Marcelo
Coelho, articulista de Folha — de quem discordo quase sempre, mas em
quem não tinha vislumbrado até agora o viés intolerante —, escreveu em
seu blog o seguinte: “Se alguém acha errado isso, e julga poder
tirar votos de Haddad falando do ‘kit gay’ sem ter visto os vídeos, está
cometendo um ato de desumanidade e sordidez”. Logo, só é possível dar provas de humanidade e decência concordando com Coelho e com os defensores do kit gay.
Alguém
poderia, julgando apressadamente que me pegou, observar: “Calma lá,
Reinaldo! Ele está se referindo às pessoas que condenaram os filmes sem
ver…”. Pois é. E se eu lhes disser que a coisa fica ainda pior? Coelho
está tão certo de que não se pode pensar o contrário do que ele pensa e,
ainda assim, ser humano e decente que não conta com a possibilidade de
que alguém possa ver os filmes e reprová-los. Para ele, assistir aos
vídeos implica necessariamente aprová-los, sob pena de a pessoa ser
excomungada do mundo dos humanos e decentes.
Chamam a isso tolerância e democracia.
Quem é que
está sempre no ataque quando o assunto é a guerra cultural? São os
ditos “conservadores”? Acho que não… Quando, depois de aprovar cotas
raciais obrigatórias nas universidades federais, a presidente Dilma
demonstra a disposição de fazer o mesmo com o funcionalismo público,
cumpre perguntar: é para unir a sociedade brasileira que ela o faz? Não é
preciso ser muito esperto (bastam algumas sinapses do nível Massinha I
de Lógica Elementar) para vislumbrar que o próprio conceito da
representação democrática — um homem, um voto — passou a correr risco.
Afinal, nada mais justo, então, do que exigir que a maior de todas as
representações democráticas, o Congresso, passe a espelhar a dita
composição racial da sociedade brasileira — como se raça existisse… O
mesmo espírito de porco que seria tentado a me pegar acima poderia se
manifestar de novo: “Ora, Reinaldo, se cada um votasse em alguém da sua
cor, teríamos a relação um homem/um voto do mesmo modo”. Ainda que isso
não implicasse questões bem mais complexas num sistema proporcional como
o nosso, notem que a vontade do eleitor teria sido suprimida, uma vez
que ele estaria obrigado a votar em alguém pertencente a seu grupo.
Imaginem filas de negros para votar em urnas de candidatos negros; de
brancos, em candidatos brancos e assim por diante…
Não ocorre
aos fascistas de esquerda que aqueles a que chamam “conservadores”,
“reacionários” ou “direitistas” têm um outro conteúdo e uma outra pauta,
legitimados pela pluralidade democrática, para a luta por justiça, por
exemplo. Em que cânone, ditado pelos céus, está escrito que o combate ao
preconceito contra homossexuais, mulheres ou negros passa
necessariamente pela agenda dos grupos militantes? Que determinação da
natureza nos informa que a afirmação de identidade é o melhor caminho da
integração, especialmente quando a concessão de um direito a uma dita
minoria pode implicar a supressão de direitos que são universais — como a
efetiva igualdade perante a lei, por exemplo?
Isso tem teoria
A cultura liberal brasileira é frágil — refiro-me ao liberalismo propriamente, aquele do livre mercado e dos direitos individuais. As vozes hegemônicas hoje da política são herdeiras, bem ou mal, do marxismo, ainda que possam estar distantes da teoria; em muitos casos, há mesmo ignorância de causa, repetindo conteúdos cuja origem ignoram. Os marxistas há muito desistiram do socialismo, como se sabe, mas não da perspectiva autoritária da engenharia social.
Se vocês
recorrerem ao arquivo, encontrarão dezenas de textos em que trato de
Gramsci, o mais importante teórico, na modernidade, da guerra cultural.
Os espaços de debate, inclusive os da imprensa, foram sendo
paulatinamente ocupados pelos militantes da tal “agenda progressista”.
Chamam de diversidade e de progresso social a imposição de sua agenda.
De volta à religião
O que mais mobiliza a reação de alguns boçais nas redações é o fato de a crítica ao kit gay — como era a crítica à descriminação do aborto — ter, sim, um fundamento religioso. E por que não poderia? “Porque o estado é laico”, poderia responder alguém. É verdade! Por laico, então está obrigado a tolerar as críticas dos religiosos — ou estaríamos falando de um estado fundamentalista ateu, que consideraria ilegítima qualquer restrição de natureza religiosa.
Note-se
que a grita havida em 2010 contra as críticas que católicos dirigiam a
Dilma por causa de sua opinião favorável ao aborto estava menos
relacionada ao suposto direito de escolha da mulher do que ao fato de
que a raiz da restrição era religiosa. Entenderam o ponto? Os
esquerdistas pró-aborto estavam menos preocupados em garantir o que
chamavam de “um direito da mulher” do que em calar a boca dos crentes.
Fenômeno semelhante de vê agora com o kit gay. Querem saber? Esses
fascistas de esquerda não estão nem aí para os direitos dos
homossexuais. Eles querem mesmo é calar os cristãos — é isso que não
toleram.
Mas chamam a isso democracia e tolerância.
E, nesse
caso, é preciso, sim, recuperar um pouco da história. Reproduzo um
trecho de “O Fascismo de Esquerda”. Goldberg lembra que Hitler era
furiosamente anticristão. Leiam. Volto para encerrar.
(…)
Sob o poder progressista, o Deus cristão havia sido transformado num oficial ariano da SS tendo Hitler como seu braço direito. Os chamados pastores cristãos alemães pregavam que “assim como Jesus havia liberado a humanidade do pecado e do inferno, Hitler salva o Volk alemão da decadência”. Em abril de 1933, o Congresso Nazista de Cristãos Alemães deliberou que todas as igrejas deveriam catequizar que “Deus me criou como um alemão; o germanismo é uma dádiva de Deus. Deus quer que eu lute pela Alemanha. O serviço militar de forma alguma ofende a consciência cristã, mas é obediência a Deus”
Quando
alguns bispos protestantes visitaram o Führe rpara registrar queixas, a
fúria de Hitler chegou ao extremo. “O cristianismo desaparecerá da
Alemanha assim como aconteceu na Rússia… A raça alemã existiu sem
cristianismo durante milhares de anos… e continuará depois que o
cristianismo tiver desaparecido… Precisamos nos acostumar com os
ensinamentos de sangue e raça.” Quando os bispos fizeram objeções a
apoiar os propósitos seculares do nazismo, e não apenas suas inovações
religiosas, Hitler explodiu: “Vocês são traidores do Volk. Inimigos da
Vaterland e destruidores da Alemanha”
Em 1935,
foi abolida a prece obrigatória nas escolas e, em 1938, cânticos e peças
de Natal foram totalmente proibidos. Em 1941, a instrução religiosa
para crianças acima de 14 anos havia sido completamente abolida, e o
jacobinismo reinava supremo. Uma canção da Juventude Hitlerista ecoava
nos acampamentos:
Não precisamos de virtudes cristãs,
Pois Adolf Hitler é nosso intercessor
E nosso redentor.
Nenhum padre, ninguém maléfico
Pode nos impedir de nos sentirmos
Como filhos de Hitler.
A nenhum cristo seguimos,
Mas a Horst Wessel!
Fora com incensos e pias de água benta!
Encerro
O que vai acima faria muitos de nossos supostos militantes do laicismo babar de satisfação, não é mesmo? Afinal, estamos no país em que uma ministra de Estado (Marta Suplicy), que ganhou o cargo na boca da urna como paga por sua adesão a uma campanha eleitoral, decretou que Lula, que não tem vocação para Cristo, é o próprio Deus.
Os
fascistas de esquerda estão assanhados. Ou você está com eles, ou eles
decretam que você é desumano e sórdido. E nós sabemos o que eles fazem
com desumanos e sórdidos, não é? O ataque organizado a cristãos,
católicos e evangélicos, sob a pele de suposto progressismo e de amor à
tolerância, é só obscurantismo e fascismo. De esquerda, sim! Como é, em
essência, qualquer fascismo.
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