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sábado, 13 de outubro de 2012

É MUITA ENGANAÇÃO...


A política de segurança da dupla Cabral-Beltrame mostra a sua cara. 
Bandido solto é bandido no comando, mas longe do cartão-postal

De todas as críticas que fiz nestes seis anos de blog, a que foi mais estupidamente incompreendida é a que dirigi à política de segurança do estado do Rio. Há algum mal em instalar UPPs em favelas? Não! É um bem! Então onde está o problema? Na tática que chamei “espalha-bandido”. O arquivo comprova quão antiga é esta minha opinião. Como traficante não vai começar a trabalhar com carteira assinada só porque a turma do asfalto está doida para celebrar a “pax”, a bandidagem vai aterrorizar outras comunidades.

Fica parecendo que o problema do Rio era de sensibilidade ferida: o tráfico à luz do dia nas favelas encravadas em áreas nobres da cidade feria certo senso de decoro. E intranquilizava, com razão, os setores formadores de opinião. A cidade ficava muito distante dos sonhos dos cartões-postais.

A política de segurança implementada pela dupla Sérgio Cabral-José Mariano Beltrame levou à “periferização” do tráfico — ficou mais distante daqueles sonhos de integração social e de cartão-postal. Reitero: o mal não está em fazer chegar as UPPs às favelas, mas em deixar a bandidagem solta.

Abaixo, segue reportagem de Leslie Leitão na VEJA desta semana. Volto depois dela para encerrar.


OS BANDIDOS NO COMANDO – Soldado do tráfico embala cocaína: em Manguinhos, a polícia não entra depois das 6 da tarde, tiroteios são parte da rotina e os tribunais de execução espalham o medo
Desde a ocupação do Complexo do Alemão pela polícia do Rio de Janeiro, em novembro de 2010, duas perguntas pairavam no ar. A primeira: onde foram parar os marginais flagrados pelas câmeras de televisão fugindo mata adentro? E que favela sucedeu ao Alemão no papel de maior entreposto de drogas da cidade? Segundo investigações ainda em curso da Polícia Civil, a cujos detalhes VEJA teve acesso, a resposta é uma só: os cabeças da gangue do Complexo do Alemão se encastelaram na região de Manguinhos e Jacarezinho – aglomerado de cinco favelas na Zona Norte onde está fincada a maior cracolândia carioca – e converteram o lugar na nova central do crime na cidade. Não encontraram resistência, como mostra de forma inequívoca um conjunto de vídeos que perfazem mais de dez horas de gravação e escancaram a impunidade nesse naco do Rio conhecido como “Faixa de Gaza”. As imagens são a evidência inconteste da extensão do poder dos criminosos naquela área, onde vivem quase 100 000 pessoas e os bandidos se sobrepõem à lei há mais de duas décadas. Neste domingo, 14, ela será ocupada para a instalação de duas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o primeiro passo para dar fim aos desmandos da bandidagem.

Numa sequência filmada em agosto passado, choca a naturalidade com que os marginais tocam suas atividades criminosas sem se preocupar com a discrição. Ao contrário: à luz do dia, cinco homens contam o dinheiro separado em centenas de pilhas sobre a mesa de um bar, enquanto comparsas ostensivamente armados – um deles usando um cinto abarrotado de munição – entram e saem do estabelecimento, situado em uma das principais ruas da favela. Duas mulheres grávidas com seus filhos compram comida no balcão ao lado. Crianças brincam junto a um ponto de venda de cocaína. Em outro trecho, vê-se a droga estocada em grandes bacias e sendo embalada em pequenos sacos plásticos. Os bandidos trabalham sob as ordens de Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, 37 anos, conhecido como Piloto. Segundo a polícia, nos últimos dois anos ele se tornou o mais poderoso traficante ainda à solta no Rio de Janeiro.




PODEROSO CHEFÃO – O traficante Marcelo Piloto (à esq.), que abrigou em seus domínios os comparsas do Complexo do Alemão: sua gangue fatura 45 000 reais por dia só com crack e conta o dinheiro no meio da rua
As UPPs em Manguinhos sucederão a outras 28 dessas bases permanentes da polícia já fincadas pelo estado em redutos do crime. Uma força-tarefa formada por policiais civis e militares e blindados da Marinha tomará a área, ocupando seus pontos estratégicos. Com a ação, a polícia pretende asfixiar mais uma artéria fundamental para os negócios da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho. Guarnecido de 100 fuzis, esse quartel-general do tráfico chama atenção pela ousadia dos criminosos que abriga. Nas ruas da “Faixa de Gaza”, nunca entra policial depois das 6 da tarde. Os tiroteios são tão comuns que a vizinha Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, mandou blindar as janelas do castelo onde funciona sua sede. Numa demonstração de força, em julho passado dez homens da quadrilha invadiram uma delegacia para resgatar um comparsa que havia sido preso horas antes. Esse traficante, Diogo de Souza Feitosa, o DG, aparece livre nas ruas da favela no vídeo obtido por VEJA. Exibe uma generosa coleção de cordões e anéis de ouro e paga doces às crianças. O reinado da gangue de Manguinhos ergueu-se sobre o assistencialismo e o terror. Ali são frequentes os “tribunais do tráfico”, em que o chefe do bando dá a sentença final. Dois anos atrás, quinze viciados em crack que importunavam moradores da região foram executados a bala e tiveram o corpo esquartejado e lançado à fogueira.


SEM LIMITES – Prédio do PAC (à esq.) e o foragido Diogo DG (à dir.): a ousadia dos marginais chegou a ponto de eles tomarem posse dos imóveis e invadirem uma delegacia para resgatar um comparsa preso

A polícia também descobriu que a bandidagem de Manguinhos expandiu suas atividades para além do tráfico e da venda de armas, esparramando seus tentáculos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. Esse complexo de favelas foi o primeiro na cidade a receber os conjuntos habitacionais do PAC – um investimento de 660 milhões de reais. O inquérito policial concluiu que os traficantes haviam se apropriado de dezenas desses imóveis, que passaram a alugar, vender e até a usar como esconderijo. Consta que só Marcelo Piloto, o chefe da gangue, tem sob seu poder as chaves de doze apartamentos. Alvo de quinze mandados de prisão, ele é acusado de uma extensa lista de crimes – tráfico, homicídio, assaltos e formação de quadrilha. Piloto está foragido há cinco anos, mas até a semana passada circulava como um rei por seu território. E ainda posava de líder comunitário: nos vídeos, ele aparece “despachando” com moradores, que fazem fila para lhe pedir que resolva brigas de casais e de vizinhos e providencie remédios e comida. Ao ouvirem rumores de que a polícia ocuparia a área, Piloto e seus comparsas evaporaram de Manguinhos, dando sumiço também ao arsenal que, a esta altura, deve estar bem guardado em outra favela. Que a polícia comece já a caçada ao bando – a tempo de evitar que se erga mais um QG do crime no Rio.


Voltei

Muito bem! A UPP chegando, os chefões do tráfico, que continuarão soltos, se mandam. Vão para onde? Para a fila do seguro-desemprego? Acho que não! Digamos que, um dia, o estado do Rio ocupasse todas as favelas — isso não vai acontecer porque falta mão de obra para tanto — sem prender ninguém… Qual seria a consequência? Só restaria uma: a exportação de bandidos para o interior do Rio ou para outros estados.

Infelizmente, setores consideráveis da imprensa se negam a ver o óbvio e tomam o que não presta pelo que presta. Ainda que soe tautológico, isto precisa ser dito: a parte ruim da política de segurança do estado do Rio não é a parte boa, mas a… ruim!!!

PS – Segundo certa imprensa, o PT, Dilma Rousseff Gabriel Chalita, o governo de São Paulo tem muito a aprender com o do Rio nesse particular. Eu acho que não.

Por Reinaldo Azevedo



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