Jogatina
Nome de Temer usado em negociata
"Apoio" ao projeto dos bingos, que custou R$ 1 milhão aos empresários do setor, pode parar na CPI de Cachoeira.
Brasília. Donos de casas de jogos eletrônicos negociaram por R$ 1 milhão o apoio de um grupo de deputados federais ao projeto de legalização dos bingos no início de 2010, quando a proposta estava prestes a ser levada ao plenário da Câmara. A negociata foi revelada pelo deputado Fábio Ramalho (PV-MG).
Pelo menos um dos deputados usou indevidamente o nome do então presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), hoje vice-presidente da República, na negociação.
Ao justificar o valor global da propina, o deputado negociador explicou que R$ 400 mil seriam destinados a Temer. O restante, R$ 600 mil, seria partilhado entre outros parlamentares. A negociata com fachada social esbarrou em Ramalho, então no primeiro mandato.
Ex-prefeito de Malacaxeta, pequena cidade do interior de Minas Gerais e favorável aos jogos, o deputado não despertou desconfiança da turma do jogo e teve acesso a informações importantes sobre as negociações.
Sem alarde, ele pediu audiência e avisou Temer sobre o envolvimento do nome dele na negociata. "A movimentação que eu vi não estava certa. Falei com o presidente (Michel Temer) que o projeto não deveria ser votado e ele me escutou - disse Ramalho à reportagem na tarde da última quarta-feira.
Naquele momento, Temer era a peça central nos interesses de donos de bingos e outros tipos de jogos. Caberia ao presidente da Câmara dar a palavra final sobre a inclusão do projeto de legalização dos jogos na pauta. As negociações estariam cobertas pela pressão social.
Com a crise internacional batendo às portas do País e o risco do desemprego crescendo, donos de bingos contavam com um forte apelo: os jogos ajudariam a ativar a economia de algumas áreas e garantiriam o emprego de milhares de trabalhadores.
O deputado federal Fábio Ramalho (PV-MG) se aproximara de Michel Temer (PMDB-SP) durante a campanha pela presidência da Câmara e, desde então, se tornara um importante interlocutor do peemedebista. A proximidade facilitou a franqueza do diálogo. O foco da tensão estaria na Comissão de Finanças e Tributação. Depois de checar a veracidade das informações, Temer tomou uma decisão: o projeto dos bingos não seria votado no plenário em hipótese alguma, enquanto estivesse na presidência da Câmara.
O texto, que estava prestes a ser apreciado, foi remetido a uma comissão para ser discutido em audiências públicas. Era uma solução intermediária. Temer evitaria o desgaste de pedir abertura das investigações formais contra parlamentares em ano eleitoral e, ao mesmo, frustraria o objetivo central do grupo - a aprovação do projeto.
O texto só foi ao plenário no final de 2010, quando Temer já havia deixado à presidência da Câmara, para fazer dobradinha com a então candidata à Presidência, Dilma Rousseff. Procurado pela reportagem, o vice-presidente da República confirmou, por intermédio da assessoria de imprensa, a pressão de alguns parlamentares para votação do projeto de legalização dos bingos e rumores das negociatas.
"Em sua última gestão na Câmara, havia muitos pedidos para incluir essa matéria na pauta de votações do plenário", diz a nota da vice-presidência. "Apesar dos pedidos, ele (Temer) jamais incluiu esse item quando estava no comando das sessões.
Seja porque sua disposição era não incluir, seja porque havia muitos boatos, que jamais se corporificaram numa acusação formal". As primeiras denúncias sobre compra de apoio parlamentar para a legalização dos bingos surgiram em 2010.
Rumores
O deputado Chico Alencar (PV-RJ) disse que, à época, ouviu rumores sobre compra de votos. Mas, só agora, o caso ganha contornos concretos. O caso pode acabar na CPI do Cachoeira, que investigará envolvimento do contraventor com políticos.
Durante a Operação Vegas, a Polícia Federal interceptou uma conversa em que Cachoeira, chefe da exploração de bingo, manda o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) procurar Temer para tratar do projeto.
Fonte: Blog Diário do Nordeste
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