03 | 05 |
2012
À espera do terceiro escrutínio
Por: Guy
Sorman
O primeiro turno da eleição presidencial francesa
foi um referendo contra Nicolas Sarkozy. Pode-se considerar raro que um
presidente que não tenha cometido um erro político grave ou imperdoável não
atinja um terço dos votos, principalmente quando não tenha concorrido contra
ele nenhum candidato da direita moderada. Seus partidários imediatamente
atribuíram à crise econômica a principal razão para essa falha. Certamente, em
toda a Europa Ocidental, fora a Polônia, todos os candidatos que saíram depois
de 2008 foram derrubados e substituídos pelo partido oposto, mas nenhum sofreu
tamanha afronta. Essa é, pois, a pessoa, o estilo Sarkozy que foi repudiado
pela imensa maioria dos eleitores franceses. Sarkozy é, sem dúvida, uma vítima
dele mesmo: brilhantemente eleito há cinco anos como o defensor de reformas
mais liberais que jamais foram oferecidas para o francês, no entanto, ele nunca
aplicou o programa (nós pensamos na reforma de 35 horas sempre presente e na
inflexibilidade do mercado de trabalho), o que irritou os liberais e os
antiliberais desde que as reformas não foram concluídas – o medo delas,
contudo, permaneceu. Não fazer o que se foi eleito para fazer é uma promessa de
derrota eleitoral.
Essa rejeição a Sarkozy beneficia aqueles que são,
tradicionalmente, os mais radicalmente hostis: comunistas, trotskystas,
anticapitalistas, que reencenam o melodrama da revolução de 1789, assim como os
reacionários da Frente Nacional com a retórica da anti-imigração. Esses
movimentos somados partilham os eleitores em comum, que rejeitam o regime
democrático, a economia liberal e o racionalismo econômico: juntos, eles
substituem mitos e constituem uma frente de rejeição enorme, sem equivalente
nas outras democracias ocidentais; e isso conta um terço da população francesa.
Embora esses refuziniks da democracia liberal, portadores da discórdia,
barretes frígios e ecologistas profundos se colocassem prudentemente no segundo
turno atrás do candidato socialista e, por reflexo, anticomunista – atrás
de Nicolas Sarkozy. No entanto, em todo caso, o rancor do primeiro turno
permanecerá e no futuro será manifestado por greves e outros movimentos sociais
de maneira a tornar difíceis ou impossíveis as reformas racionais que seriam
necessárias para evitar a falência imintente nas finanças públicas.
Essa falência vai se voltar para François Hollande,
o vencedor no primeiro turno, vencedor provável no segundo turno. O “não” a
Sarkozy no primeiro turno vai tornar o 6 de maio um round sem fervor, mas inevitável
para Hollande. Como Hollande, de posse de seu novo cargo, mas sem o apoio de
uma onda entusiasta e sem um programa, conseguiria tornar o Estado francês
operacional e menos predador ao restaurar o espírito de competição entre os
empresários? A vantagem de Hollande será de não ter prometido nada fora do
previsto para não ser Sarkozy. Mas, já se pensou na forma do Estado no futuro?
Não está claro: o que prenuncia um terceiro escrutínio doloroso, nas ruas ou
nos mercados financeiros, são os grandes eleitores finais.
Tradução: Maria Júlia Ferraz
Disponível no site
do autor
Fonte: Blog do Mídia@Mais
Nenhum comentário:
Postar um comentário