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quarta-feira, 5 de março de 2014

40 ANOS DA PONTE...MARCO DA ENGENHARIA BRASILEIRA

Por Marco Antonio Esteves Balbi
Prezados senhores! Tenho 65 anos de idade e desde que me entendo por gente aprendi a ler jornal. Frequentava a Biblioteca Municipal da minha cidade ou utilizava a sala dos grêmios estudantis para fazê-lo. Até que, muitos anos passados, pude manter uma assinatura regular.
Penso não ser muita pretensão de minha parte escrever-lhes esta carta aberta, com a finalidade de externar meu ponto de vista a respeito de assunto veiculado pelo jornal. Ao receber a edição do dia 9 de fevereiro, vi, logo destacada, a manchete 40 anos da Ponte, ilustrada por uma bela foto daquela que se tornou um símbolo mundialmente reconhecido do Rio de Janeiro e do Brasil.
Entretanto, ao ler o subtítulo e a legenda, confesso que um misto de decepção e porque não dizer, raiva começou a me assaltar. Utilizando-se dos chavões comuns das esquerdas derrotadas e que hoje posam como politicamente corretas, de acordo com a doutrina gramscista em plena aplicação na vida nacional, pareceu-me que, muito mais importante do que ressaltar a importância da obra realizada, a reportagem buscava contribuir para denegrir um período de 21 anos da história brasileira.
Entre os anos de 1964 e 1985 o Brasil passou, inicialmente, em março, prestes a celebrar 50 anos, por uma reação democrática exitosa que implantou um regime de exceção. Os termos que aqui utilizo, e já o faço a algum tempo, em substituição aos termos revolução cívico-militar ou contragolpe, ditadura militar, regime militar ou linha dura ou qualquer outro, eu os apreendi com o ilustre jurista constitucionalista Dr Ives Gandra da Silva Martins. Sugiro que o entreviste, quando então ele poderá lhes explicar, à luz da jurisprudência e da história, da qual foi partícipe, o porque da utilização desta terminologia. Reação democrática de março de 1964, que defenestrou o desgoverno Jango e regime de exceção.
O Brasil de Vargas, o Brasil de JK e o Brasil do regime de exceção teve planos, teve metas. SALTE, Plano de Metas e Plano Nacional de Desenvolvimento foram os seus nomes. Cada um dos governos aqui citados procurou cumpri-los da melhor maneira possível. Todos eles tiveram como foco principal estabelecer e melhorar a deficiente infraestrutura do país.
Castelo Branco, ao assumir o governo, reuniu uma equipe de pessoas com destaque na vida nacional para colocar ordem à casa Brasil, deixada à matroca pelo desgoverno Jango. Para não cansar citaria os nomes de Otávio Bulhões, Roberto Campos, Leitão da Cunha, Arnaldo Sussekind, Pedro Aleixo, Juarez Távora, Juracy Magalhães entre outros. Cumprido o desiderato e eleito seu sucessor, coube a este, Marechal Costa e Silva, elaborar um Plano Estratégico de Desenvolvimento que antecedeu os Planos Nacionais de Desenvolvimento.
Graças a este planejamento, elaborado e cumprido na medida do possível pelos sucessivos presidentes do regime de exceção, é possível o Brasil de hoje usufruir um grande legado, para usar uma palavra da moda, em todos os campos, inclusive o social. Querem um exemplo? O Funrural! Querem outro? O Estatuto da Terra! Poderia citar inúmeros, mas os senhores podem pesquisar, se assim o desejarem. É neste contexto que se insere a construção da "ponte da ditadura"! Ou, a construção de um marco da engenharia! Dentro do planejamento viário realizado, com o Brasil sendo cortado em grandes rodovias longitudinais, transversais e radiais, sucessivamente numeradas, uma das mais importantes era justamente a rodovia 101 que corre paralela ao nosso litoral, desde Chuí até Touros. Desta ligação faz parte a ponte ligando o Rio de Janeiro e Niterói.
Faço uma pausa para abordar o trabalho do Ministério Público Federal e a chamada justiça ou direito de transição. Trata-se de um grupo de procuradores que busca um holofote politicamente correto, onde quer que ele se encontre. Seu alvo principal tem sido atazanar a vida de agentes do estado que lutaram a guerra interna de 1968 a 1974. E venceram, derrotaram aqueles que pretendiam implantar a ditadura do proletariado. Ditadura sim, Cuba sempre lhes serviu de modelo para o regime que queriam viver no Brasil e o que acontece desde 1959 na ilha dos Castro não permite a ninguém se enganar. O Globo aqui seria transformado no Granma. Eis que agora surge um novo alvo. Viram que foram bem sucedidas algumas substituições em escolas de nomes de presidentes durante o regime de exceção. E, pegando carona na onda, associada ao fato de celebrar os 40 anos da ponte e os 50 anos da reação democrática de março, ajuizaram a ação para a mudança do nome. Diga-se de passagem, até hoje juiz algum permitiu que estas ações impetradas prosperassem.
Fico pasmo ao ler as ilações da matéria, 40 anos de uma marco da engenharia, com a Comissão da Verdade, com o desaparecimento e morte de pessoas nos anos mais sangrentos, número absolutamente inventado, com suspeitas de superfaturamento, ouvindo um permanente consultor do jornal, Carlos Fico. Toda e qualquer matéria do jornal apresenta a opinião deste professor de história. E as opiniões dele sempre vem a calhar com a abordagem dos articulistas e a pauta traçada: critique os governos do regime de exceção.
Menos mal que permitiram ao neto do Coronel Andreazza apresentar uma defesa, inimaginável, pela obra do seu avô. Como alguém já citou, "no Brasil até o passado é incerto".
Toda e qualquer evolução tecnológica provoca avanços. Trata-se de uma falácia afirmar que a Revolução Industrial ou o aperfeiçoamento do agronegócio trouxe desemprego. Num primeiro momento sim, mas imediatamente após são criados mais e melhores oportunidades de trabalho. Assim, soa quase ridículo citar a perda de emprego dos marítimos pela desativação das sete embarcações que faziam a travessia. Com certeza logo obtiveram melhores empregos. Como já afirmou Luis Inácio, foi a melhor época de emprego no país, a gente saía de uma fábrica e já estava empregado em outra, com melhor salário. Mas, por favor, falar em milagre econômico soa como autoelogio, não é verdade?
Feita a licitação, venceu o consórcio que ofereceu o menor preço no menor prazo. Como a obra não deslanchava, o governo fatiou o projeto entregando parte ao consórcio segundo colocado. Não houve entendimento, quando então o governo desapropriou e encampou a obra, através de uma empresa pública que cumpriu a meta. A reportagem chama este episódio de golpe da linha dura. Mal comparando, corresponderia nos dias atuais o governo encampar a obra paralisada da transposição do Rio Francisco. Alguém no governo federal se habilita? Além de assumir a obra, o próprio ministro e o seu lugar tenente, Coronel Guedes e suas famílias foram morar no canteiro de obras. Vocês imaginam algum ministro atual indo residir no canteiro de alguma obra Brasil afora? As autoridades, nos dias atuais, mal dão um rolezinho de helicóptero, com o fotógrafo oficial a bordo, para ficar bem com os eleitores. Quando muito fazem um rápido pouso em local previamente escolhido, para fazer uma série de promessas, verbas, casas, prevenção para o próximo desastre, que nunca são cumpridas.
O Coronel João Carlos Guedes passa a ser estereotipado como aquele sargentão de filme americano. Por impor disciplina, metas, cumprimento de cronograma e outras coisas fundamentais para o sucesso de qualquer empreitada, ou será que nas Organizações Globo as coisas não funcionam assim, é citado como durão, de mal bofes e conservador. Céus, quantos defeitos! Conservador é citado como defeito ou virtude? Para gerir uma obra que contava com dez mil trabalhadores e 200 engenheiros, apoiados numa cidade para tal erigida, mais uma série de desafios tecnológicos para a época, a figura do coronel pareceu-me fundamental. E, os engenheiros que com ele trabalharam fazem justiça a sua figura. "Se fosse hoje, a obra seria impossível. Havia hierarquia, mas tínhamos liberdade para trabalhar."
A pretensa influência militar no projeto chega a ser risível. Se havia a necessidade de que a altura do vão fosse de 72 metros por exigência da Aeronáutica e para a Marinha 60 metros seriam suficientes, lógico que se atendeu à FAB. Qual a disputa? E o abrigo de 100 a 200 mil pessoas, em caso de catástrofe, nos caixões metálicos do vão central, deve ser atribuído a algum cineasta criativo!
Outra abordagem facciosa da reportagem diz respeito ao número de mortos em acidentes de trabalho. Ao relatar que o número oficial é o de 33 mortos, faz ilações com um suposto número de 400 e o que é pior, enterrados, concretados nos pilares, fato sobejamente desmentido. Os repórteres só conseguiram levantar 18 mortos, ou seja, nem encontraram o número oficial atribuído. Ressalte-se que as exigências de prevenção de acidentes de trabalho na época não eram as hoje estabelecidas.
TERCEIRA MAIOR PONTE DO PLANETA QUANDO INAUGURADA, com quase 14 quilômetros, a Rio-Niterói enfrentou DESAFIOS DE ENGENHARIA, o maior deles, ASSEGURAR 300 METROS DE CANAL NAVEGÁVEL NO VÃO CENTRAL (canal principal). Esta frase, senhores, deveria ganhar destaque na reportagem e não estar escondida na quarta página. Acrescentando- se que, o pessoal responsável pela manutenção da mesma assegura que o vão chega aos 40 anos sólido e seguro. O Engenhão, por exemplo, lhes traz alguma ideia de comparação? E mais, planejada para uma capacidade máxima de 50 mil carros, mercê de adaptações suporta hoje 150 mil veículos. E a gestão de 10 mil trabalhadores na cidade do Fundão erigida com esta finalidade. Este foi o desafio vencido por brasileiros, militares e civis, não para enaltecer este ou aquele governante, governo ou regime, mas porque era fundamental para o Brasil. Cumpriram a missão! Empregaram bem os recursos que a nação lhes havia destinado, mercê dos seus impostos! E hoje? Onde e como estão sendo aplicados ? Estão beneficiando quem? Cadê a transposição do Rio São Francisco? Cadê a Ferrovia Norte-Sul? Cadê os portos e aeroportos? Cadê as rodovias?
Ao abordar as história das vidas de pessoas que, de uma forma ou de outra, marcaram a trajetória em função da Ponte, mais uma vez faz questão de destacar que ela é uma obra da ditadura. Felizmente a família do engenheiro morto no que foi o primeiro e talvez mais trágico acidente, quando faleceram 8 trabalhadores, recebeu as indenizações que lhe eram devidas, mesmo que 20 anos depois. 120 vítimas dos terroristas, bandidos, sequestradores que desencadearam a guerra interna de 1968 a 1974 nunca receberam indenização alguma.
Para concluir, na edição do dia 11 de fevereiro, a matéria apresenta a nota informativa do Ministério Público Federal sobre a mudança do nome da Ponte Rio-Niterói e traz artigo de autoria de Carlos Andreazza, neto do Ministro Mário Andreazza, que serviu aos governos Costa e Silva, que não viu a obra concluída, e Médici. Ressalto o seguinte trecho: "a esses revisores da história - tapados pela mistificação, obstruídos pela doutrina do justiçamento da memória, cegos aos fatos - não ocorre examinar, portanto, que sem este homem, sem Artur da Costa e Silva, não haveria ponte, tão simples quanto isso...". E ele relembra ainda que o maior ditador que o Brasil já teve, o mais longevo, "cruel, vil, perseguidor, golpista, torturador, no entanto nomeia de goleiro a fundação." E eu ousaria acrescentar escolas, vias, hospitais e até cidades. Espero, pois, que o MPF inicie, desde já, os processos para abjurar o nome de Getúlio Vargas, o "pai dos pobres"! Vai ser trabalhoso!
Finalmente, na época oportuna já havia me manifestado com surpresa e indignação, quando as Organizações Globo decidiram fazer um mea culpa e abjurar o apoio dado à reação democrática de março de 1964 e ao regime de exceção que se seguiu. Os editoriais históricos de 1964 e 1984, quando a reação democrática completou 20 anos, entretanto, manterão imaculada a imagem de Roberto Marinho. Democrata convicto, por certo não aprovaria a decisão tomada por seus sucessores, decisão esta que explica em parte a linha editorial tomada por seus diferentes veículos, da qual a reportagem veiculada sobre a Ponte Presidente Costa e Silva me parece servir como exemplo. Marco da Engenharia completa 40 anos.

Carta aberta aos jornalistas Chico Otávio e Bruno Góes
Cópia para a Editoria País e os Editores Executivos
Cópia para o Diretor de Redação e Editor Responsável
Cópia para o Diretor-Geral
Cópia, ainda, para os Irmãos Marinho
Ao jornal O Globo e às Organizações Globo


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