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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Quem matou Celso Daniel?

domingo, 22 de janeiro de 2012




Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Gerhard Erich Boehme

Os esquemas de corrupção montados nas prefeituras administradas pelo PT nos anos 90 produziram uma série de crimes, entre eles a morte do de Celso Daniel. É o caso de maior repercussão. No futuro teremos livros e filmes sobre o tema.

No dia 20 de janeiro, um dia após a Luiza ter retornado do Canadá, estamos completando dez anos da morte de Celso Daniel, o ex-prefeito petista da cidade de Santo André, no ABC paulista. Sua morte ocorreu depois de ter sido sequestrado em janeiro de 2002. Seu corpo foi encontrado em uma estrada de terra no município paulista de Juquitiba alvejado por oito tiros. Trata-se de uma execução. E o que temos em termos de justiça, nada.

Uma década depois, após dois mandatos presidenciais de Lula e um ano de governo Dilma, ou seja, após nove anos de governo do PT, o assassinato brutal do homem que era cotado para coordenar a campanha que enfim levaria o partido ao poder no Brasil permanece sem solução.

O caso Celso Daniel já foi reaberto duas vezes. Já esteve nas mãos da Polícia Civil e do Ministério Público. A tese da polícia, aplaudida pelo PT, é a de que Celso Daniel foi vítima de crime comum, encomendado pelo amigo e ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, que estava com Celso na noite em que ele foi sequestrado.

Já o Ministério Público acusou oito pessoas pela morte de Celso Daniel. Até hoje, só um dos implicados no crime, Marcos Bispo dos Santos, foi julgado, à revelia, e condenado a 18 anos de prisão. O “Sombra”, que nega veementemente ter participado do crime, deve ir a júri popular neste ano.

A promotoria, entretanto, refuta a tese de crime comum abraçada pela polícia e avalizada pelo PT, dizendo que Celso Daniel foi assassinado porque teria descoberto um esquema de corrupção na prefeitura de Santo de André que servia para desviar dinheiro para um caixa dois do Partido dos Trabalhadores usado para financiar campanhas eleitorais.

Na realidade, com direito a livro e a filme, o caso configura claramente tratar-se de queima de arquivo. E a queima de arquivo teve continuidade, pois policiais envolvidos no caso foram também mortos.

No julgamento de Marcos Bispo dos Santos, o promotor Francisco Cembranelli disse aos jurados que Celso Daniel “tinha ciência da corrupção e contrataram sua morte quando ameaçou tomar providências”.

O PT, por seu turno, acusa os promotores de tentarem politizar a morte de Celso Daniel. Pessoas que eram ligadas ao ex-prefeito e que hoje ocupam cargos do alto escalão do governo federal, como o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, assessor da prefeitura de Santo André quando da morte de Celso, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, viúva do prefeito morto, tentam ignorar os sangrentos desdobramentos do assassinato do ex-prefeito de Santo André, com a morte de nada menos do que sete pessoas ligadas ao crime, entre testemunhas e acusados de participação no homicídio.

Três meses depois do assassinato de Celso Daniel (1), o preso Dionísio Severo (2), ligado a Sérgio “Sombra”, foi morto na cadeia apenas dois dias após ter dito que teria informações sobre o caso. Ele foi resgatado da prisão de helicóptero dois dias antes da morte de Celso e, depois, recapturado. O homem que deu abrigo ao foragido neste meio tempo, Sérgio “Orelha”(3), também foi assassinado, bem como Otávio Mercier (4), investigador de polícia que ligou para Severo na véspera do sequestro de Celso Daniel.

E temos o caso do irmão de Celso Daniel, o Bruno Daniel que acabou se exilando fora do Brasil para sua segurança, pois bem ele denuncia Gilberto Carvalho.

Não perca a conta: o garçom, Antonio Palácio de Oliveira (5), que na noite do sequestro do ex-prefeito serviu a mesa de uma churrascaria em São Paulo em que estavam Celso Daniel e Sérgio “Sombra” foi assassinado em fevereiro de 2003.

Quando morreu, portava documentos falsos e tinha recebido na conta bancária um depósito de R$ 60 mil. A única testemunha da morte do garçom, Paulo Henrique Brito (6), morreu 20 dias depois com um tiro nas costas. Com dois tiros nas costas morreu em dezembro do mesmo ano o agente funerário Ivan Moraes Rédua (7), a primeira pessoa a reconhecer o corpo de Celso Daniel, quando ele ainda estava jogado na estrada de chão.

A última pessoa ligada ao caso que morreu, até agora, foi o médico-legista Carlos Delmonte Printes (8), que examinou o cadáver de Celso Daniel. O médico vinha dizendo que o ex-prefeito de Santo André foi brutalmente torturado antes de ser morto.

Em setembro de 2005 ele chegou a ir no programa do Jô Soares, da Rede Globo, onde disse que recebeu pressão de políticos para aceitar a tese de crime comum. Um mês depois foi encontrado morto em seu escritório, na Zona Sul de São Paulo. Algum outro legista atestou suicídio.

Na última quarta-feira, 18, um dos irmãos de Celso Daniel, Bruno Daniel — que viveu anos exilado na França na condição de refugiado político devido às ameaças que sofreu por sua insistência em elucidar o crime — apareceu dando uma entrevista à Band na qual afirmou que Gilberto Carvalho levou “em seu corsinha preto” R$ 1,2 milhão em propina arrecadada em Santo André para entregar a José Dirceu, que teria dado encaminhamento para o dinheiro ser usado na campanha de Lula em 2002.

Suposição? Crime comum?

Seis acusados de matar o prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002, devem ser julgados neste ano. A avaliação foi feita por Marcio Augusto Friggi De Carvalho, promotor do Gaeco (Grupo de Apoio Especial ao Crime Organizado) no ABC paulista, nesta semana em que o crime completa dez anos.

E a quantas anda a justiça? Como vemos não tem data ainda para o julgamento, mas certamente - em relação aos outros acusados, menos o Sombra - o julgamento deve acontecer ainda neste ano.

Celso Daniel foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002, mas seu corpo só foi encontrado dois dias depois, no dia 20, em uma estrada de Juquitiba, cidade a 78 km da capital paulista.

Apesar de o crime ter acontecido em janeiro de 2002, dos oito acusados, apenas um foi julgado. Em 2010, Marcos Bispo dos Santos foi condenado a 18 anos de prisão.

Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, é apontado pelo Ministério Público como mandante do crime e responde separadamente pelo assassinato. Na época do sequestro, ele era assessor e amigo próximo de Celso Daniel e saia de um jantar com a vítima na noite em que o então prefeito sumiu.

Os promotores dizem que a morte de Daniel aconteceu porque a vítima teria descoberto um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André para financiar campanhas do PT e que o sequestro teria sido simulado. A tese, porém, cria um conflito com a versão da polícia, que concluiu que o assassinato foi um crime comum sem cunho político.

Sem entrar ainda no mérito de quem eram os delegados, sabemos que a Polícia Civil terminou o inquérito em abril de 2002, cerca de três meses depois do crime. Com base em depoimentos dos acusados, os policiais do DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) concluíram que o então prefeito de Santo André foi sequestrado por engano por uma quadrilha de seis pessoas.

Segundo as investigações, quando o grupo se deu conta de quem era vítima, o chefe ordenou a soltura. Porém, a ordem teria sido descumprida por um dos integrantes, que matou Celso Daniel porque ele teria visto o rosto do criminoso.

No entanto, após uma investigação complementar, o Ministério Público, concluiu que o crime teve motivação política, relacionada ao esquema de corrupção na administração municipal. Sombra é apontado como o mandante do crime e responde ao processo em liberdade.

E temos ainda a versão da Polícia Militar.

A socióloga Ivone Santana, namorada de Celso Daniel na época do crime, diz acreditar que o assassinato não teve motivação política, como afirma a polícia. Na época do crime, Ivone já havia dado declarações dizendo que achava que o prefeito foi vítima de um crime normal.

- Eu não tenho elementos para mudar minha posição. Ninguém se beneficiou com a morte do Celso, pelo contrário, todo mundo perdeu muito.

Ivone diz ainda que não tem informações sobre suspeita de propina na prefeitura de Santo André (que envolveram o então prefeito) e que não acredita que Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, seja mandante do crime.

- Ou a pessoa mata por uma diferença irreconciliável ou tem um ganho com isso. Mas a vida do Sérgio acabou depois disso. Eu vejo isso e não vejo evidência [de participação do Sérgio no crime].

Ela disse que não teve acesso à integra do processo judicial e que as informações que tem são as que foram veiculadas pela imprensa. Apesar de não morarem juntos, Ivone e Celso Daniel mantinham um relacionamento estável e tinham uma filha juntos. A paternidade da jovem, no entanto, só foi reconhecida no ano passado após um exame de DNA.

Com o histórico de mortes e mais mortes, acaso podemos esperar que a Ivone apresente algum fato novo? Vale lembrar que um dos beneficiários do esquema de corrupção era o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Agora no Brasil, depois de se exilar em Paris, Bruno Daniel, está de volta ao Brasil. E deu uma entrevista exclusiva à TV Bandeirantes, que acaba de ser levada ao ar no jornal da Band. “Meu irmão deu a vida pelo PT”, disse Bruno Daniel.

Ele afirmou que o ex-prefeito comandava um esquema de arrecadação de propinas em Santo André, para financiar campanhas do PT – inclusive a disputa de 2002, que levou Luiz Inácio Lula da Silva ao poder. Bruno conta que a revelação foi feita pelo ex-secretário de Santo André e atual secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

“Ele nos contou que levou R$ 1,2 milhão em espécie para o PT no seu corsinha preto”, disse Bruno Daniel. O valor teria sido entregue ao então presidente nacional do partido, José Dirceu.

De acordo com a reportagem exibida pela Band, Celso Daniel comandava o esquema de arrecadação de propinas, mas não concordava com a destinação de recursos para finalidades não partidárias. Por isso, teria sido assassinado, assim como várias pessoas que presenciaram o jantar entre Celso Daniel e Sérgio Gomes da Silva numa churrascaria de São Paulo, antes do sequestro do ex-prefeito.

Bruno Daniel conta que se exilou em Paris por medo de ser assassinado. Mas diz que decidiu voltar para resgatar a verdade e a memória do irmão. “Fatos como esse não podem se repetir”, disse ele.

Em 2002, Celso Daniel coordenava a campanha de Lula à presidência da República. Depois do assassinato, foi substituído por Antonio Palocci. Caso a tragédia não tivesse ocorrido, ele poderia estar hoje sentado na cadeira de presidente da República. Teria sido ministro da Fazenda de Lula e provavelmente seu candidato em 2010.

Casos como este, seguramente fizeram mais vítimas, mas no caso foram oito mortes com a de Celso Daniel, todas em situações misteriosas (algumas pessoas alegam que foram quinze):

1. Dionísio Aquino Severo - Sequestrador de Celso Daniel e uma das principais testemunhas no caso. Uma facção rival à dele o matou três meses após o crime.

2. Sergio - ‘Orelha’ - Escondeu Dionísio em casa após o sequestro. Morreu fuzilado em novembro de 2002.

3. Otávio Mercier - Investigador da Polícia Civil do Departamento de Narcóticos. Telefonou para Dionisio na véspera da morte de Daniel. Morto a tiros em sua casa.

4. Antonio Palácio de Oliveira - O garçom que serviu Celso Daniel na noite do crime pouco antes do sequestro. Em fevereiro de 2003.

5. Paulo Henrique Brito - Testemunhou a morte do garçom. Levou um tiro, 20 dias depois.

6. Iran Moraes Redua - O agente funerário que reconheceu o corpo do prefeito jogado na estrada e que chamou a polícia em Juquitiba, morreu com 2 tiros em novembro de 2004.

7. Carlos Delmonte Printes – Médico Legista que atestou marcas de tortura no cadáver de Celso Daniel, foi encontrado morto em seu escritório em São Paulo, em 12 de outubro de 2005.

Gerhard Erich Boehme é Engenheiro e Administrador. gerhard@boehme.com.br

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